Monday, February 26, 2007

Direito a habitar

A Paróquia de S. Pedro, no Prior Velho, acolheu durante dois dias uma exposição intitulada “ Direito a Habitar ”, que visou sobretudo relembrar os 40 anos de Políticas Públicas de Habitação. Nesta iniciativa da Plataforma artigo 65, criada com o objectivo de defender o direito a habitação, tal como consagra o artigo 65 da Constituição da República Portuguesa, a associação fez-se representar por Helena Roseta que já anda há muitos anos a tentar resolver o problema da habitação. Segundo a arquitecta a exposição mostra tudo aquilo que os portugueses viveram nos anos 60 quando emigraram para outros países da Europa e o que os emigrantes vindos da África, mas não só, vivem agora. E tal como se gritava no 25 de Abril de 1974 “casa sim, barraca não”, continua-se a ouvir o mesmo grito.
Roseta relembrou como, com a ajuda dos arquitectos, foi fundado o Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL), que tinha por meta solucionar os casos de famílias sem habitação. Nos anos 90, devido à pressão da comunicação social, o governo foi obrigado a criar o Programa Especial de Realojamento (PER). O PER visava o realojamento das pessoas que residiam nos bairros de barracas através da construção de habitações sociais em zonas ultra-periféricas juntando muitas vezes a descriminação geográfica à descriminação étnica e social. Contudo, o PER está longe de acabar. Muitas famílias ainda aguardam casas e, por outro lado muitas pessoas acabam outra vez por ocupar barracas já demolidas.
A Plataforma pretende ajudar essencialmente pessoas e famílias que ficaram fora do PER, considerando que em Lisboa há mais de 60 mil casas fechadas e que podem ser habitadas. Através de um novo projecto, Acupunctura Urbana, pretende-se recuperar as casas e habitá-las. Segundo a Plataforma essa iniciativa conta com o apoio do presidente da República e inclusive este já foi convidado para visitar um dos bairros de barracas.

Texto Surraia Correia

Friday, February 23, 2007

Carnaval À Bolina II



Balões Catarina Camacho

Carnaval À Bolina



Balões Catarina Camacho

Thursday, February 15, 2007

Fada Moranga faz magia no «À Bolina»

Na tarde de 15 de Fevereiro a Fada Moranga visitou o projecto À Bolina, na Quinta da Serra, Prior Velho, para partilhar as suas cores. Ex-maquilhadora profissional e artista plástica, Maria João Catarino espalhou estrelas e pozinhos de brilhantes e fez nascer flores, núvens e até máscaras de homem-aranha nas caras dos meninos que frequentam o apoio escolar. Os seus pincéis e as aguarelas também rasgaram sorrisos e muita risota. E a Moranga prometeu voltar. Porque o Carnaval é quando esta fada e os nossos meninos quiserem.

Monday, February 05, 2007

«Ana e Hanna»: exclusão dos emigrantes em foco no Teatro D. Maria


Até 6 de Março está em cena, no Teatro Nacional D. Maria II,«Ana e Hanna», de John Retallack, com encenação de António Feio e interpretada por Rita Calçada e Vânia, a ex-Delirium. Com acção em Tavira, a peça reflecte sobre a questão da exclusão social, tema em foco na actualidade devido ao grande fluxo migratório a que o país assiste.
Esta peça fala de uma bonita amizade que nasce entre duas raparigas, de dezanove anos, a portuguesa Ana, cantora de karaoke, e a kosovar Hanna, recém-chegada à cidade de Tavira em busca de asilo político.
A vida destas duas raparigas cruza-se numa noite de verão e a partir daí trocam experiências e emoções. Ana é interpretada pela Vânia, mais conhecida na área da música como uma das Delirium, que agora se estreia no teatro. Esta personagem é muito pouco receptiva à chega de imigrantes à sua terra, tal como a maior parte da comunidade a que pertence. Já a personagem albanesa, vítima desta exclusão, veio do Kosovo com a mãe e o irmão. Hanna quer ser farmacêutica, enquanto a portuguesa apenas quer ser rica.
A paixão pela música será o factor dominante para que as duas jovens partilhem as suas vidas e que nasça uma amizade tão forte que nem a distância consegue destruir.
Uma peça para o público jovem, que foca dois lados da emigração: a voz de quem acolhe e a de quem é acolhido.
Para ver de 1 de Dezembro a 6 de Março de 2007, na sala Garrett. Quartas e Sextas às 11 horas, Sábados e feriados às 15:30 e Domingo às 11horas. A peça, para maiores de 12 anos, pode ser vista pelos participantes no Projecto À Bolina pelo preço especial acordado com o ACIME: 6€.

Texto: Surraia Correia
Foto: Teatro Nacional D. Maria II

Partida

Era Setembro
Diferente de todos os outros
Uma tarde Nova
Porque não eram tardes as que me habituei

A ave de ferro roncou e levantou,
No entardecer desse Setembro.
Lá fora o silêncio, silêncio e dor.
Porquê meu Deus, porquê da partida?
Também dentro,
Um silêncio amargo
As interrogações do que será amanhã

Num mundo desconhecido
Que até o sol era outro
Ainda dentro, eu, alegre mas triste,
Fechado num silêncio hipócrita
Sufocante com a partida,
Só Deus sabe.

Outono
Num pôr-do-sol triste
A ave poisou na terra do amparo,
Que a história já me falara.
Tudo era novo
Até o meu céu coberto com panos de jagundins,
Deixou de existir
Para ser colorido de gaivotas
Que hoje os meus olhos se vão acostumando.

Autor: MaVaDi
Lisboa, Setembro de 1985

Terra Longe

De zero a segunda idade
Fui sempre teu
Percorremos longos caminhos
Sem reparar o traço do destino

Chegou o momento de te deixar
Não o faço porque quero
Nem porque sou cobarde
Faço-o porque é o momento.

É preciso partir
Porque ainda tenho forças
É preciso partir
Porque merecem algo

Parto porque vos quero
Com gosto ou desgosto
Sinto que devo partir
Porque é o destino

Parto mas fico
Fico porque deixei raízes
Rodeadas de amigos
Cobrindo o vácuo que a partida deixou

Também deixo inimigos
Venenos e fogueiros da partida
Sem esperanças no amanhã
Servindo de homens
Para a acha das suas fogueiras

Levo e deixo saudades.

Que fazer
É o destino
Pertenço ao meu tempo
Devo sacrificar por ele

MaVaDi (Na Hora do Adeus)
Setembro de 1985

A minha terra... Bolama, Bijagós

«A minha terra é linda, com uma beleza muito grande: boas águas, praias, uma flora e fauna muito ricas. Representa 80% da economia da Guiné. A minha terra vive de três partes: pesca, agricultura e comércio. Quanto à alimentação, o arroz é um produto importante assim como a mancara (amendoim), o feijão branco, o milho, etc. Constrem-se bonecos tradicionais em pau preto ou coloridos.
Há certos rituais como por exemplo, a "Toca do Choro" - que é uma cerimónia fúnebre - e o "Fanado". Gosto muito da minha terra.»

Autor: Junilto Netchemo

O Junilto, que tem 13 anos, chegou em Dezembro da Guiné para tratar complicações decorrentes de uma fractura na perna, há seis anos atrás. Foi hospitalizado e operado de emergência no Hospital D. Estefânia, onde está em recuperação. Entretanto tem trabalhado com as professoras que apoiam as crianças e jovens internados. Este trabalho foi escrito com a ajuda da professora Anabela Bento.