Thursday, March 29, 2007

Desenhos de Junilto II



O Junilto no Hospital Dona Estefânia

Desenhos do Junilto



Em Ambuduco, a tabanca do Junilto.

Wednesday, March 28, 2007

Fada Moranga faz curso de pinturas faciais no À Bolina

No dia 4 de Abril, entre as 15h e as 18h, a Fada Moranga estará no projecto À Bolina para dar a conhecer os materiais necessários e o domínio das técnicas para pinturas faciais. Este curso acontece na sequência das sessões de pinturas faciais feitas pela Fada Moranga durante o Carnaval e também no dia 26 de Março. Nessas ocasiões, a ex-maquilhadora profissional e artista plástica Maria João Catarino espalhou estrelas e pozinhos de brilhantes e fez nascer flores, núvens e até máscaras de homem-aranha nas caras dos meninos que frequentam o apoio escolar. Este curso funcionará mediante inscrição prévia e o pagamento de 1€ por cada inscrito, o qual servirá para comparticipar simbolicamente a compra de materiais.

Tuesday, March 20, 2007

Carta Aberta a um(a) Vizinho(a)



Cara Vizinha (o)

I. Estou muito triste porque roubaram os computadores do Projecto À Bolina da Associação. Roubaram os computadores dos nossos meninos e dos nossos jovens.

No princípio não quis acreditar. Sentei-me um bom quarto de hora com os olhos fechados e a acreditar que quando os abrisse, eles, os computadores, estariam lá - novinhos, bonitos e prontos para ser usados.

Até que bateram à porta. Fui abrir. Eram as meninas que voltavam da escola para perguntar se hoje podiam usar os computadores. Não sabia que responder. Olhei para trás e vi que os computadores não estavam lá. Disse-lhes que não, não podiam. Nem elas nem ninguém porque os computadores tinham sido roubados.

Há noite quando reconheci na rua as nossas crianças - as que estariam no apoio escolar - vieram-me as lágrimas aos olhos.


II. O que é que se passa connosco?

Que espécie de medo ou de inacção tomou posse de nós?

Porque não reagimos contra aquilo que nos mata?
Que nos mata a dignidade, que nos mata o nosso futuro e o futuro dos nossos filhos e que às vezes também nos mata fisicamente.

Porque olhamos para o lado quando se passam coisas com as quais não concordamos?

III. A raiz de todos os males está na violência. É contra ela que temos de nos levantar. Com toda a coragem.

Quando o nosso filho, ameaçado na escola, põe uma faca de cozinha na mochila ou na algibeira, aí tudo começou. Porque contra uma faca, uma pistola e contra uma pistola, uma caçadeira. Ele vai pensar que estar sozinho é perigoso, que é preciso associar-se para se defender melhor…Vai estudar as opções mas as opções raramente são boas.

Quando o barulho que o meu vizinho faz de noite me impede de dormir e eu tenho de me levantar cedo para ir trabalhar no dia seguinte, penso dizer-lhe isso mesmo, mas fico com medo que o meu carro seja vandalizado e então calo-me.

Se o nosso filho chega a casa com um telémovel ou computador ou qualquer coisas nova e de valor que sabemos que não tem dinheiro para comprar e nos calamos porque temos medo de assumir o nosso papel de pais, porque algures se perdeu o respeito.

Se ouvimos e presenciamos toda a forma de violência doméstica e fazemos de conta que não é nada porque “entre marido e mulher ninguém meta a colher”.

Se batemos nos nossos filhos, e chamamos a isso educação, até eles terem idade e corpo para se virarem a nós e baterem-nos eles.

Quando assistimos a assaltos no bairro e viramos a cara...

Podiamos continuar...

IV. Mas o vizinho está a pensar....bom, isto é um bocado verdade mas eu meto-me na minha vidinha que não tenho nada a ver com isso.

Talvez esteja enganado.

O vizinho é PER? é não PER? Não interessa o que seja mas alimenta a ideia de um futuro melhor para si e para a sua família. Pensa muitas vezes que no dia em que deixar o bairro as coisas vão melhorar.

E se eu lhe disser que pode ir para um inferno pior se tudo ficar como está.

Senão vejamos:

O vizinho é PER, adere ao PER famílias e tem condições económicas para comprar casa onde quiser. É teórico porque o vizinho transporta consigo a imagem do Bairro de Barracas, da Violência, das Drogas da Prostituição , do Bairro onde “nem para eles são bons”. As pessoas vão estar de pé atrás. Injustiça? Talvez não porque quem cala consente. O vizinho consentiu porque calou.

O vizinho é PER mas não tem condições para aderir ao PER Famílias porque ganha pouco, o emprego é instável. Como é PER tem direito ao realojamento, mas onde? Provavelmente num bairro de realojamento onde ninguém quer viver. Os canos de esgoto não correm a céu aberto mas, às vezes o vizinho vai ter saudades do bairro. Porque é que o põem nos bairros indesejáveis? Porque visto de fora, no bairro são todos iguais, porque há as pessoas perversas e as pessoas boas que se calam.

O vizinho é Não PER, seja legal ou ilegal. Os PER já saíram do Bairro. O bairro é visto de fora um getto dominado por gangues mais ou menos (des)organizados. O que é preciso fazer, provavelmente com o apoio de todos os cidadãos eleitores dos bairros à volta, é erradicar o bairro, destruí-lo. Não preciso de explicar como isso se faz. O vizinho sabe.

Nessa altura vamos estar todos sozinhos porque estivémos o tempo todo a tratar da nossa vidinha.

V. Martin Luther King Jr. disse um dia

Teremos de nos arrepender nesta geração não tanto das acções das pessoas perversas, mas dos pasmosos silêncios das boas pessoas.

Vamos continuar parados em silêncio ou vamo-nos levantar, cada um de nós, dentro de si e em conjunto, como um corpo vivo, e dizer com coragem:

NÃO AO MEDO!
NÃO À VIOLÊNCIA!
SIM À PAZ E À JUSTIÇA!