Wednesday, October 31, 2007
Movimentos
Este fim de semana a reconstrução do campo de futebol teve mais um impulso importante. Mais mestres, mais ajudantes e muita gente a ajudar vai pondo de pé o projecto que os jovens pensaram. O muro já está completo, falta o rebouco e pintura, e já se deu inicio à construção das bancadas no lado Norte. Sente-se um grande entusiasmo de toda a gente e os vizinhos mais próximos do campo têm revelado intenções de alindar as suas casas para "não destoar".
Entretanto, ali ao lado, na sede da Associação estão a terminar as obras do infantário que está a ficar muito bonito. A Matuzende e a Irmazinha Glória estão agora nas arrumações finais. Abertura do infantário prevista em Novembro.
Estão sendo demolidas varias barracas à volta do campo de futebol. É um paradoxo que muitas vezes as pessoas concretizam assim: "agora que o bairro está sendo demolido pouco a pouco é que vamos ter finalmente as coisas que tanto queriamos". As coisas são o infantário, o apoio escolar, as actividades desportivas e um bairro mais limpo e com mais luz.
Texto e fotos: José da Costa Ramos, in http://oquestamosafazer.blogspot.com
Tuesday, October 30, 2007
Demolições pioram o ambiente na Rua da Alegria
No início de Outubro o bairro começou a ter uma imagem mais tratada e bem cuidada. As pessoas responsáveis por estas mudanças são a D. Maria de Lourdes que, juntamente com a técnica do GIA, Catarina Camacho, trabalham para um ambiente saudável. Por outro lado a Câmara de Loures também cumpriu uma promessa: pelas ruas do bairro foram colocados restos de alcatrão já utilizados e que de algum modo vieram contribuir para as melhorias ambientais de que o bairro tem beneficiado, sobretudo na rua da Alegria.
Coincidindo com o arranque da vedação do campo de futebol - um trabalho dinamizado pelo José Maria Semedo com ajuda do grupo de jovens - no passado sábado uma equipa de demolição deitou abaixo uma casa que confina com o recinto desportivo. Esta habitação pertencia a uma família que regressou entretanto a Cabo Verde. Os que ainda cá ficaram terão que conviver com os restos das demolições, já que não foram retirados todos os lixos.
Quando se fazem demolições espera-se que o espaço que em tempos acolheu uma família durante anos fique limpo. Não para outros fins mas para criar um ambiente mais saudável. Talvez por pressa ou desinteresse, desta vez o espaço da demolição não ficou limpo o que é de lamentar quando algumas pessoas no bairro lutam por um ambiente melhor, com as ruas mais limpas. Aquilo que se espera das entidades que vêem demolir as barracas é que façam um trabalho bem feito, que é o que lhes compete. E já agora porque não colaborarem um pouco para um bairro mais limpo com espaços agradáveis onde as crianças possam brincar?
Texto: Surraia Correia
Monday, October 29, 2007
O desafio da vida
Maria Vieira Rodrigues – gosta que lhe chamem Dirce – nasceu há 37 anos, na Praia, em Cabo-Verde. A actual responsável pelo apoio escolar do À Bolina tornou-se professora primária depois de completar o 12º ano no Instituto Pedagógico mas quando terminou o curso estava cheia de medo. “Não conseguia encarar os alunos.”
Pensou que a solução para a sua insegurança era o ensino no interior de Santiago, sua ilha natal, pois acreditava que aí “os alunos eram mais alunos”. Quando chegou a Assumada, as suas expectativas foram completamente frustradas. “Fiquei com a turma mais problemática. Na altura tinha 24 anos mas já tinha a minha filha e tinha de ganhar a vida: fui-me acostumando.”
Ao longo de cinco anos passou por várias escolas da região. Até que veio a Portugal passar férias e acabou por ficar. Dois anos após a primeira experiência de vida em terras portuguesas emigrou para os EUA, desafiada pelo irmão mais velho.
Mas o 11 de Setembro de 2001 mudou a sociedade americana e o fechamento desta ditou que, em 2002, não conseguisse trabalho. Por insistência dos pais, regressou então a Cabo Verde. Após ser reintegrada na escola deu aulas durante dois anos até que, de 2005 a 2007, geriu uma escola. Chamada “Bairro”, esta é uma escola sem electricidade onde não há professores para o acompanhamento dos alunos com necessidades especiais aí existentes. A impossibilidade de terem suporte tecnológico para as actividades é um dos males menores deste espaço que não pode acolher quaisquer seminários. Ainda assim foi possível introduzir melhorias. Com o apoio da cooperação francesa conseguiram vedar o espaço da escola – alvo de assaltos e de interrupções frequentes das aulas até então – a que se seguiu a angariação de um apoio para o horto escolar.
O Programa Alimentar Mundial (PAM) manterá a ajuda a Cabo Verde até 2010. “Por isso todas as escolas estão a procurar ter o seu horto escolar para obter uma maior autonomia.” Os excedentes da horta que são vendidos permitem financiar serviços, como a limpeza do espaço, que não são pagos pelo governo do país. E permitem, sobretudo, garantir uma refeição diária aos alunos. Estes chegam por volta das 8h da manhã e ficam até ao 12h30 na escola mas a meio da manhã, às 10h, é-lhes servida uma refeição de arroz com peixe ou com carne, sopa e outros alimentos que, até ao momento, são fornecidos pelo PAM.
Este ano, o regresso a Portugal desta professora primária cabo-verdeana impôs-se por motivos de saúde da sua filha, Dircelina. Quando a conhecemos, na UNIVA da Quinta da Serra, procurava qualquer trabalho mas, com um sorriso, acrescentava sempre que podia que o que gostava mesmo era de trabalhar com crianças. Quando a Ângela Califórnia – a “Anja” dos meninos do apoio escolar – deixou o projecto, lembrámo-nos da Dirce e da experiência que trazia de Cabo-Verde. Ela aceitou o desafio.
“Eu gosto muito de ler. E tenho a ideia de escrever um livro, “O Desafio da Vida”. Quando aceitei a proposta de ser gestora em Cabo Verde era um desafio. Não tinha formação e pensei que havia pessoas mais experientes. Mas aceitei e geri uma escola com três cozinheiras, 16 professores e 400 alunos. O desafio está sempre atrás de mim ou à minha frente. Quando falou comigo o Zé Carlos disse-me que tinha um desafio para me fazer. Assumi-o. Nada acontece por acaso.”
"Uma mão lava a outra"
O movimento dos jovens da Quinta da Serra "grafitou" o À Bolina no nosso espaço . Assinou assim, aquilo que é cada vez mais um espaço público. Um espaço de acção.
O papel do Zé Maria na constituição deste espaço público é muito importante. Um dos primeiros jovens a arranjar emprego através da Univa, foi também um dos primeiros a assumir uma relação constitutiva com o projecto: "Uma mão lava a outra". Foram estas as suas palavras quando lhe pedi para apresentar a factura duns arranjos que tinha feito no projecto.
O Zé Maria é hoje, membro da equipa e não mudou em nada. O seu trabalho de renovação do espaço À Bolina (a propósito está fantástico pintado a cal, ocre amarelo e rosa marrakech) e o envolvimento na acção, a decorrer, de melhoramentos no campo de futebol são prova disso.
Mas, talvez, o mais importante é o exemplo que o Zé Maria dá, de jovem pai de família, de sólida base moral e respeitado entre todos. O Zé Maria é um homem de virtude. Que a boa sorte lhe sorria.
Texto e foto: José da Costa Ramos, in"oquestamosafazer.blogspot.com"
A Rua da Alegria tem menos buracos
No dia 1 de Outubro de 2007 - já quase no Outono - o "Primavera na Alegria" deu mais um passo em frente, aumentando a sua visibilidade junto da comunidade da Quinta da Serra.
Para os mais distraídos, que não tinham ainda prestado atenção aos trabalhos de limpeza da Rua da Alegria e em torno do Campo de Futebol, efectuados pela D. Maria de Lourdes Varela Gomes (colaboradora do GIA) e seus esforçados ajudantes (alguns dos membros mais jovens do GIA, crianças do bairro), este foi um sinal inconfundível de que algo estaria a mudar na Quinta da Serra.
A Câmara Municipal de Loures, em resposta a um velho desejo dos moradores, enviou um camião e alguns trabalhadores, que cobriram o piso da Rua da Alegria. As opiniões divergem quanto ao resultado destes trabalhos, mas trata-se, inegavelmente, de um bom sinal.
Texto:Catarina Camacho, in"gia-abolina.blogspot.com"
Fotos: À Bolina
A Arte do Contexto
Quando olho para o bairro, quando olho para as nossas crianças, para os nossos jovens procuro sempre perceber o que estamos a fazer.
A fecundidade da nossa acção e também a eficácia do nosso trabalho depende do rigor do diagnóstico. A miopia - ver bem unicamente as coisas que nos estão próximas - não nos ajuda a acertar no alvo. Circunscrever o diagnóstico ao bairro é um erro. Temos de olhar para a cidade, para a escola e procurar agir.
A escola deveria ser mais inclusiva do que é. O sistema de ensino e a organização que lhe está subjacente deveria estar de acordo com as necessidades especificas do seu público-alvo. Escolas em territórios habitados por imigrantes teriam de se adaptar às suas necessidades de integração e desenvolvimento e não o contrário. Muitas vezes os projectos como o nosso são vistos como uma maneira de ajustar as crianças e jovens a uma escola-tipo abstracta. No limite estes projectos são sítios para onde se mandam as crianças com as quais a escola não consegue lidar. Agir com as escolas para encontrar modelos e práticas mais inclusivas é seguramente uma das grandes tarefas do nosso projecto.
As oportunidades ao nível da educação, formação e das saidas profissionais dos jovens estão limitadas por um facto aparentemente menor. O nosso modelo de mobilidade urbana está baseado no automóvel e a nossa rede de transporte pública é pouco eficiente. No caso especifico do Prior Velho isso aplica-se por maioria de razão. O Junilto entra às 8.30 h na escola em Benfica sai de casa às 6:00 h da manhã correndo o risco de, se tudo correr bem, "ir para lá dormir" ou, se tudo correr mal, chegar atrasado! A "moda" actual de estar a tirar a carta de condução, quase todos os jovens maiores de 18 anos estão ou querem tirar a carta, reflecte isso mesmo.
Muitos dos hábitos de consumo dos jovens que são julgados duma maneira apressada uma inversão inexplicável de prioridades e.g. roupas de marca, "tecnoluxúria", etc. estão profundamente ligados a uma reacção a contextos exclusivos. Tirar a carta para, a seguir, ter um automóvel insere-se aí.
Quando olho para o bairro, quando olho para as nossas crianças, para os nossos jovens, emerge esta evidência de que as causas dos problemas não estão dentro mas fora do bairro.
Texto e foto: José da Costa Ramos, in "oquestamosafazer.blogspot.com"
Wednesday, October 24, 2007
Necessária mais mão de obra imigrante para 2008
O Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) anunciou que em 2008 será necessária mais mão-de-obra imigrante. As principais razões encontradas pelo IEFP para se recorrer aos trabalhadores estrangeiros é a de que os portugueses não estão disponíveis para desempenhar determinadas tarefas e nem sempre reunem os requisitos exigidos pelas empresas. Às entidades patronais resta o recuso aos imigrantes que manifestam sempre o desejo de arranjar um emprego mesmo que precário.
Apesar de continuarem a entrar imigrantes no país todos os anos, há ainda postos de trabalho que ninguém quer ocupar, apesar das 440 mil pessoas que não encontram emprego. Só em 2007 o IEFP anulou 3101 ofertas de emprego devido ao desajustamento dos candidatos ou porque simplesmente não existiam pessoas aptas.
Estes dados são determinantes na medida em que assumem um papel importante para a definição do contingente para a admissão de trabalhadores imigrantes necessários para a realização de tarefas não sazonais previsto na nova lei da imigração.
Ainda que a lei preveja a prioridade aos trabalhadores portugueses no acesso ao emprego, o centro de emprego tem 30 dias para encontrar um desempregado que queira a vaga para o emprego. Muitas vezes isso não acontece e as empresas acabam por contratar no estrangeiro através dos meios legalmente previstos.
O IEFP revelou ainda que a carência de trabalhadores é mais evidente no sector da construção, nos hotéis e na restauração. Contudo as vagas que mais prevalecem nos centros de empregos ou para as quai não foram encontrados trabalhadores que queiram o emprego são na área da metalurgia, metalomecânica, operários e técnicos de nível intermédio.
Texto de Surraia Correia
Tuesday, October 23, 2007
História nº4: N'Tchanha
Ilustração: Ruben Oliveira
Era uma vez um homem que tinha duas mulheres e quando uma morreu a filha desta ficou com a madrasta e os seus irmãos. A madrasta não gostava dela e por isso obrigava-a a fazer todo o trabalho lá em casa enquanto as suas irmãs brincavam.
Certo dia em que a rapariga foi à fonte buscar água partiu a bilha. Quando voltou para a casa, contou à madrasta o que tinha sucedido e esta, furiosa, ralhou com ela dizendo-lhe que arranjasse uma outra bilha nem que para tal morresse tal como a sua mãe. Então a menina saiu à procura de uma mulher que costumava fazer bilhas para vender.
Pelo caminho, ia a cantar:
N´tchanha, n´tchanha.
Cilorabinta.
N´tchanha, n´tchanha.
Cilorabinta.
Ntchanha massacunda
Cilorabinta.
Ntchanha massacunda
Cilorabinta.
Tété té cilorabinta.
Tété té cilorabinta.
Enquanto ia a cantar encontrou um leão e perguntou-lhe se sabia onde era a casa da tal senhora. O leão disse-lhe para seguir o caminho em frente. Até que encontrou um macaco que lhe disse o mesmo e depois uma gazela que também disse para seguir aquele caminho.
A rapariga continuou a caminhar até encontrar uma senhora que tomava banho numa lagoa. A mulher pediu que lhe esfregasse as costas e quando o fez cortou-se toda nas mãos porque as costas da mulher eram de ostras. A senhora disse-lhe para bater as mãos na água. Assim fez e as feridas sararam.
A seguir a senhora disse à menina para ir para casa com ela, esmagar arroz, cozinhar e comer. Assim fez e a mulher, que era uma feiticeira serpente, disse-lhe que a iria transformar numa agulha e colocá-la em cima do telhado porque os filhos estavam a regressar da lagoa e poderiam comê-la.
Quando chegaram, os meninos comeram o arroz e quando começaram a sentir cheiro de pessoa humana disseram à mãe. Esta disfarçou dizendo que não havia ninguém em casa e mandou-os de novo para a lagoa.
A mulher voltou a transformar a menina em ser humano e deu-lhe três ovos. Disse-lhe que no caminho para casa deveria parti-los sempre no final de cada canção. Deveria cantar seis vezes cada uma e só no último ovo é que poderia olhar para trás.
Obediente, a rapariga fez tudo o que a feiticeira lhe disse e quando olhou para trás viu uma casa enorme, bonita e com muitas coisas. A rapariga pegou numa bilha, foi para casa e deu-a à madrasta.
Com raiva por ela ter conseguido voltar, trazendo uma bilha, a madrasta ficou cheia de ciúmes e resolveu mandar a sua filha fazer o mesmo caminho para ver se conseguia uma casa como a da sua meia-irmã.
Quando ela começou a fazer o mesmo percurso, encontrou uma serpente a tomar banho. Esta pediu-lhe que lhe esfregasse as costas mas a rapariga respondeu:
-O quê? Em casa não costumo esfregar as costas da minha mãe. Então porque é que haveria de esfregar as suas?
Pediu-lhe então para irem para casa, cozinhar arroz. A menina respondeu:
-O quê? Em casa não cozinho e nem faço nada.
Mais tarde, a feiticeira disse que ia transformá-la em agulha mas ela também não quis.
Como não conseguiu transformar a rapariga em agulha, a feiticeira escondeu-a atrás da porta para que os seus filhos não a comessem. Quando estes regressaram, comentaram com a mãe que sentiam cheiro de carne humana mas ela conseguiu enganá-los e voltaram para a lagoa.
Então a feiticeira deu três ovos para a rapariga e explicou-lhe o que fazer com elas enquanto voltava para casa. Teimosa como era, a moça não seguiu as recomendações e assim que foi lavar os pés na lagoa, foi imediatamente picada pelas serpentes e morreu.
Ilustração: Fábio Vieira
Esta história, tradicional da Guiné, foi-nos contada pelo nosso amigo Junilto Netchemo (ambuduco.blogspot.com), de 13 anos e chegado a Portugal em Dezembro de 2006 - ao mesmo tempo que nós chegámos ao Bairro da Quinta da Serra, onde o conhecemos.
Era uma vez um homem que tinha duas mulheres e quando uma morreu a filha desta ficou com a madrasta e os seus irmãos. A madrasta não gostava dela e por isso obrigava-a a fazer todo o trabalho lá em casa enquanto as suas irmãs brincavam.
Certo dia em que a rapariga foi à fonte buscar água partiu a bilha. Quando voltou para a casa, contou à madrasta o que tinha sucedido e esta, furiosa, ralhou com ela dizendo-lhe que arranjasse uma outra bilha nem que para tal morresse tal como a sua mãe. Então a menina saiu à procura de uma mulher que costumava fazer bilhas para vender.
Pelo caminho, ia a cantar:
N´tchanha, n´tchanha.
Cilorabinta.
N´tchanha, n´tchanha.
Cilorabinta.
Ntchanha massacunda
Cilorabinta.
Ntchanha massacunda
Cilorabinta.
Tété té cilorabinta.
Tété té cilorabinta.
Enquanto ia a cantar encontrou um leão e perguntou-lhe se sabia onde era a casa da tal senhora. O leão disse-lhe para seguir o caminho em frente. Até que encontrou um macaco que lhe disse o mesmo e depois uma gazela que também disse para seguir aquele caminho.
A rapariga continuou a caminhar até encontrar uma senhora que tomava banho numa lagoa. A mulher pediu que lhe esfregasse as costas e quando o fez cortou-se toda nas mãos porque as costas da mulher eram de ostras. A senhora disse-lhe para bater as mãos na água. Assim fez e as feridas sararam.
A seguir a senhora disse à menina para ir para casa com ela, esmagar arroz, cozinhar e comer. Assim fez e a mulher, que era uma feiticeira serpente, disse-lhe que a iria transformar numa agulha e colocá-la em cima do telhado porque os filhos estavam a regressar da lagoa e poderiam comê-la.
Quando chegaram, os meninos comeram o arroz e quando começaram a sentir cheiro de pessoa humana disseram à mãe. Esta disfarçou dizendo que não havia ninguém em casa e mandou-os de novo para a lagoa.
A mulher voltou a transformar a menina em ser humano e deu-lhe três ovos. Disse-lhe que no caminho para casa deveria parti-los sempre no final de cada canção. Deveria cantar seis vezes cada uma e só no último ovo é que poderia olhar para trás.
Obediente, a rapariga fez tudo o que a feiticeira lhe disse e quando olhou para trás viu uma casa enorme, bonita e com muitas coisas. A rapariga pegou numa bilha, foi para casa e deu-a à madrasta.
Com raiva por ela ter conseguido voltar, trazendo uma bilha, a madrasta ficou cheia de ciúmes e resolveu mandar a sua filha fazer o mesmo caminho para ver se conseguia uma casa como a da sua meia-irmã.
Quando ela começou a fazer o mesmo percurso, encontrou uma serpente a tomar banho. Esta pediu-lhe que lhe esfregasse as costas mas a rapariga respondeu:
-O quê? Em casa não costumo esfregar as costas da minha mãe. Então porque é que haveria de esfregar as suas?
Pediu-lhe então para irem para casa, cozinhar arroz. A menina respondeu:
-O quê? Em casa não cozinho e nem faço nada.
Mais tarde, a feiticeira disse que ia transformá-la em agulha mas ela também não quis.
Como não conseguiu transformar a rapariga em agulha, a feiticeira escondeu-a atrás da porta para que os seus filhos não a comessem. Quando estes regressaram, comentaram com a mãe que sentiam cheiro de carne humana mas ela conseguiu enganá-los e voltaram para a lagoa.
Então a feiticeira deu três ovos para a rapariga e explicou-lhe o que fazer com elas enquanto voltava para casa. Teimosa como era, a moça não seguiu as recomendações e assim que foi lavar os pés na lagoa, foi imediatamente picada pelas serpentes e morreu.
Ilustração: Fábio Vieira
Esta história, tradicional da Guiné, foi-nos contada pelo nosso amigo Junilto Netchemo (ambuduco.blogspot.com), de 13 anos e chegado a Portugal em Dezembro de 2006 - ao mesmo tempo que nós chegámos ao Bairro da Quinta da Serra, onde o conhecemos.
Indira
A Indira tem talento. É óbvio. Acabou de entrar para a universidade e sabemos que um dia a arte dela será conhecida além do Bairro da Quinta da Serra. Estes são estudos que tem feito no âmbito da preparação da exposição no CNAI que o Alto Comissário para a Imigração e Diálogo Intercultural a convidou a fazer.
O Deserto Não Está em Nós
A ausência de mundo coloca-nos no deserto, mas o deserto não está em nós. A psicologia procura adaptar-nos ao deserto, retira-nos a faculdade de sofrer e a virtude de suportar. Suportando a paixão de sofrer no deserto criamos a coragem para agir, para nos transformarmos a nós próprios.
Os oásis não são lugares de descompressão mas fontes de vida, sem a dimensão de integridade dos oásis não saberiamos como respirar. Cito de memória "the promise of politics" de Hannah Arendt.
Recebemos no bairro 50 coordenadores de projectos escolhas , ontem terça feira 16 de Outubro para o Workshop de Mediação e Gestão de Conflitos.
A importância para o bairro do evento é indeterminável. A sensação, essa é a de um oásis. Não foi o projecto que acolheu o workshop, foi o bairro. Para quem está habituado ao bairro isso é intuitivo, mas podemos procurar evidências na maneira como muitas pessoas foram encaminhadas, no almoço, na curiosidade e alegria de muita gente.
O meu filho Francisco anda a estudar as baleias, e eu com ele. Fiquei a saber que as baleias tem duas formas de comunicação: as ondas curtas que permitem diálogos precisos entre seres e as ondas longas, que são usadas para enviar sinais e testemunhos de presença. A relação do bairro com os nossos companheiros dos outros projectos fez-se com ondas longas mas fez-se. Isso enche-nos de alegria.
Texto e fotos: José da Costa Ramos
Monday, October 22, 2007
Grafitti À Bolina
Conhecer melhor o direito à saúde
Foi apresentado, no dia 25 de Setembro, o primeiro relatório de acesso à saúde pelos imigrantes elaborado pelos Médicos do Mundo a partir de estudos feitos em sete países europeus. Os resultados, apurados na Bélgica, Espanha, França, Grécia, Itália, Portugal e Reino Unido, sobre os imigrantes em situação irregular são únicos, uma vez que não existem estudos sobre este tipo de informação ao nível nacional e nem internacional.
Nesta primeira amostra focou-se os imigrantes e, em particular, os que se encontram em situação irregular. Foram ainda analisadas situações como a recusa de tratamentos, atraso no acesso aos cuidados de saúde e o facto de alguns imigrantes sentirem medo de serem detidos.
Com este relatório os Médicos do Mundo pretendem reclamar igual acesso aos cuidados de saúde para todos os que vivem na Europa e uma regulação do acesso à saúde para estrangeiros gravemente doentes que não têm acesso efectivo a tratamentos nos seus países de origem.
Estes imigrantes são pobres, excluídos e por vezes até discriminados. Mais de 40% têm alojamento precário sendo que 11% vivem na rua.
A partir da análise deste relatório verifica-se que das 835 pessoas de 85 nacionalidades inquiridas, duas em cada dez pessoas consideram o seu estado de saúde como mau ou muito mau. Das doenças identificadas nos imigrantes em situação irregular, muitas são de origem ostearticular, digestiva, psíquica e ginecológico no caso de algumas mulheres.
Do estudo resulta ainda a constação que, em certos países da Europa, a questão da saúde é tratada de maneira pouca clara e confusa. Fala-se de direitos e deveres mas na prática pouco acontece e os imigrantes residentes nestes países são quem mais se ressente dessa situação.
De um modo geral, na maioria dos países europeus, as pessoas não estão informadas dos seus direitos. Por exemplo, um número elevado de pessoas desconhece que pode beneficiar gratuitamente do teste de despistagem da sida e apenas uma minoria sabe que os seus filhos podem beneficiar da vacinação de uma forma gratuita. Neste âmbito é a França que apresenta o melhor nível de informação devido às campanhas realizadas sobre o assunto junto dos imigrantes. Em Portugal, o direito à saúde está garantido pela constituição, sendo que os cuidados são acessíveis a todos nos centros de saúde e nos hospitais públicos mas 65% dos indivíduos que participaram no estudo dos Médicos do Mundo desconhecem que o teste de despitagem da sida é gratuito.
Para muitos desses indocumentados, o direito de acesso aos cuidados da saúde não significa que as pessoas o conheçam e usufruam deste direito na realidade. Apenas 24% de todas as pessoas que foram questionadas beneficiam realmente de cobertura de saúde.
Este inquérito permitiu constatar que, é em Espanha que as pessoas são melhor informadas do seu direito de beneficiar de uma cobertura de saúde, enquanto na Bélgica e em França esses direitos são desconhecidos.
Texto: Surraia Correia
Thursday, October 18, 2007
História nº 3: O Filho do Lenhador
Ilustração: Ruben Oliveira
Era uma vez um lenhador que sempre que ia buscar lenha à floresta trazia ao seu filho um coração de lobo para ele para comer. E todos os dias o filho ficava à espera do pai para comer mais um coração. Ilustração: Ruben Oliveira
Certo dia, o pai saiu para ir buscar lenha e deixou o filho com a mãe em casa. O menino ficou cheio de fome e começou a chorar pois o pai nunca mais chegava. Enquanto passeava pela aldeia o lobo ouviu uma criança a chorar e foi ver. Bateu a porta e perguntou:
-Porque é que o seu filho está a chorar? Tem fome?
A mãe aflita, sem saber o que fazer, já que o seu filho estava habituado a comer todos os dias um coração de lobo, respondeu dizendo.
-O meu filho está a chorar porque o pai costuma trazer coração de lobo para ele comer sempre que volta da floresta.Ilustração: Amari João
Então o lobo com medo que a mãe o matasse também para conseguir um coração e acalmar o filho respondeu rapidamente, fingindo que era uma gazela:
- Bem, é melhor a gazela do mato, que é toda pintada, fugir.
E assim, o lobo conseguiu escapar porque se fosse reconhecido a mãe do menino poderia matá-lo para poder alimentar o seu filho.Ilustração: Ruben Oliveira
Esta história foi contada pelo Carlinhos, um menino guineense de 9 anos, que vive nos Terraços da Ponte mas, que ao fim-de-semana, fica em casa da Tia Dada.
Thursday, October 11, 2007
Encontros informais com pais no À Bolina
No âmbito do estágio académico de Carla Mendonça, aluna do 3º ano do Curso de Serviço Social da Universidade Católica, estão a decorrer desde Julho encontros informais com um grupo de pais de crianças que frequentam o apoio escolar do À Bolina. Até à data realizaram-se 4 sessões que tiveram como objecto de debate temas relacionados com a escola, nomeadamente: constituição do grupo de debate e reflexão, segurança escolar, comunicação entre a escola e a família e dificuldades de aprendizagem. Nestas sessões informais ao grupo de pais são propostos os temas que vão sendo debatidos com uma participação intensa de todos ao nível da apresentação das dificuldades que sentem e das soluções que pensam mais adequadas para a resolução ou minimização das questões/problema.
Para cada sessão é realizada pela Carla uma pesquisa temática e entrevistas com técnicos especialistas nas temáticas a abordar, sendo regra das sessões de debate que terminem com uma síntese dos pontos discutidos e das soluções apresentadas sendo enquadradas na pesquisa prévia efectuada.
No próximo dia 16 de Outubro, às 20H00, na sala de apoio escolar do À Bolina, realizar-se-á mais uma sessão subordinada ao tema “Percursos Escolares” que, como é habitual, terminará com um lanche convívio entre todos os participantes.
Para cada sessão é realizada pela Carla uma pesquisa temática e entrevistas com técnicos especialistas nas temáticas a abordar, sendo regra das sessões de debate que terminem com uma síntese dos pontos discutidos e das soluções apresentadas sendo enquadradas na pesquisa prévia efectuada.
No próximo dia 16 de Outubro, às 20H00, na sala de apoio escolar do À Bolina, realizar-se-á mais uma sessão subordinada ao tema “Percursos Escolares” que, como é habitual, terminará com um lanche convívio entre todos os participantes.
Testemunhos de descendentes de imigrantes em livro do ACIDI
Decorreu na Biblioteca da Assembleia da República, no dia 24 de Setembro, o lançamento do livro “Descendentes de Imigrantes – Um Lugar na Sociedade Portuguesa. Na sua apresentação nestiveram presentes o presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, o Ministro da Presidência do Concelho de Ministros; Pedro Silva Pereira e o Alto Comissário para a Imigração e o Diálogo Intercultural, Rui Marques.
São doze jovens descendentes de Imigrantes que quiseram partilhar a sua história e pretendem ilustrar um pouco o que tem sido a sua vida numa sociedade em que ainda se fala em integração dos imigrantes.
Um desses jovens autores é Nuno Santos, mais conhecido por Chullage pela sua actividade como rapper, que, filho de pais cabo-verdianos, considera importante participar.” É sempre importante dar voz a um instrumento deste tipo, que pode chegar a diferentes esferas da sociedade para que conheçam assim diferentes perspectivas acerca dos imigrantes”. Chullage é apenas um dos muitos jovens descendentes de imigrantes que ao longo das suas vidas foram vencendo obstáculos colocados pela sociedade portuguesa. “Apesar das barreiras que surgem, é preciso construir um caminho e é bom que isto seja visto lá fora”.
Para este jovem, o percurso de cada pessoa é simbólico sendo que todos os passos que se dão fazem sentido. “Cada um tem que pôr o seu tijolo, a sua marca pessoal”, assume o músico que, tanto como os outros autores, agradece a oportunidade de poder colaborar nesta iniciativa. É com orgulho e satisfação que todos falam um pouco de si, dando a cara para este livro que esperam que sirva de modelo para acabar com algumas ideias erradas que a sociedade criou em relação aos imigrantes e seus descendentes.
Texto de Surraia Correia
Foto: ACIDI
São doze jovens descendentes de Imigrantes que quiseram partilhar a sua história e pretendem ilustrar um pouco o que tem sido a sua vida numa sociedade em que ainda se fala em integração dos imigrantes.
Um desses jovens autores é Nuno Santos, mais conhecido por Chullage pela sua actividade como rapper, que, filho de pais cabo-verdianos, considera importante participar.” É sempre importante dar voz a um instrumento deste tipo, que pode chegar a diferentes esferas da sociedade para que conheçam assim diferentes perspectivas acerca dos imigrantes”. Chullage é apenas um dos muitos jovens descendentes de imigrantes que ao longo das suas vidas foram vencendo obstáculos colocados pela sociedade portuguesa. “Apesar das barreiras que surgem, é preciso construir um caminho e é bom que isto seja visto lá fora”.
Para este jovem, o percurso de cada pessoa é simbólico sendo que todos os passos que se dão fazem sentido. “Cada um tem que pôr o seu tijolo, a sua marca pessoal”, assume o músico que, tanto como os outros autores, agradece a oportunidade de poder colaborar nesta iniciativa. É com orgulho e satisfação que todos falam um pouco de si, dando a cara para este livro que esperam que sirva de modelo para acabar com algumas ideias erradas que a sociedade criou em relação aos imigrantes e seus descendentes.
Texto de Surraia Correia
Foto: ACIDI
Wednesday, October 10, 2007
História nº2: Chibinho e o Lobo
Havia um Lobo que era muito guloso. Quando saia à procura de comida achava sempre que o que encontrava era pouco e não ia satisfazê-lo. O seu sobrinho, Chibinho, era o oposto: comia tudo o que encontrava pelo caminho. Certo dia, o Lobo, que viu o Chibinho muito gordo, disse-lhe: “Chibinho, o que andas a comer para ficares assim tão gordo? Tens que me dizer”. O Chibinho respondeu-lhe que comia tudo o que ia encontrando pela estrada e por isso estava tão gordo. Combinaram então sair juntos para procurar comida. Enquanto passeavam, o Lobo continuava a achar que tudo o que ia encontrando pelo caminho era pouco e por isso não apanhava. Ele queria algo que o satisfizesse já que era muito comilão. Quanto ao Chibinho foi comer figos numa figueira que tinha encontrado durante os seus passeios.
Um dia o Lobo chamou o Chibinho e, armado em esperto, pediu-lhe que lhe tirasse uma coisa entre os dentes que o estava a incomodar. Quando o Chibinho pegou numa agulha, o Lobo gritou bem alto: “Chibinho não, isso não, que uma ponta de agulha matou a minha avó”. Então, o Chibinho foi buscar um espeto e assim que o Lobo viu gritou novamente: “Isso não, que matou a minha mãe”. O mesmo sucedeu com o alfinete pelo que o Chibinho decidiu tentar usar a própria mão para ver se assim já conseguia ajudar o tio. Mal colocou um dedo na boca do Lobo, este agarrou-o, fechando a boca. Faminto, o Lobo disse que só o soltaria se o Chibinho o levasse ao sítio onde costumava comer. Este assustou-se muito e pediu ao tio que o soltasse enquanto iam mas o Lobo não aceitou pois ele era muito malandro e fugiria. Sem opção, o Chibinho levou o tio à figueira onde costumava comer. Ai chegados, o Chibinho pediu ao Lobo que o soltasse, o que este aceitou. A figueira tinha muitos frutos e o Chibinho disse: “Rema abaixo”. A árvore fez descer os ramos e ele comeu até ficar com a barriga cheia. Vendo isso, o Lobo, em vez de dizer o mesmo, disse: “Rema acima”. A árvore subiu os ramos com ele pendurado num dos ramos, pelo que ficou muito alto. Sem se importar, o Lobo foi comendo enquanto o Chibinho, que já estava satisfeito, foi para a sua horta onde cultivava muitas coisas boas. Quando voltaram a encontrar-se, o Lobo perguntou ao Chibinho por onde tinha andado e este respondeu que tinha estado na sua horta. Quando o levou lá consigo, o Lobo mandou-o embora dizendo que o Chibinho não sabia tratar das plantações. Triste, o Chibinho foi-se embora. Um dia resolveu vingar-se do seu tio e levou-o a subir um rochedo. À medida que iam subindo, Chibinho ia enganando o Lobo dizendo-lhe que ali havia um monstro com os olhos arregalados. Este, todo assustado, correu rapidamente para chegar ao cimo do monte onde, sem se aperceber, caiu de costas e morreu. Satisfeito, o Chibinho desceu e foi à sua vida.
História contada por Dona Lorença, cabo-verdeana de 78 anos de idade, residente no Bairro da Quinta da Serra. Ilustrações feitas sobre canudos de suporte de papel higiénico por Eduarda Mendes (Lobo e Chibinho à procura de comida; Lobo e Chibinho com agulha), Carla Lopes (Lobo a morder o dedo do Chibinho; Chibinho e Lobo a caminho da figueira), Catarina Varela (Lobo na figueira, Lobo e Chibinho na horta), Moisés Mendes (Lobo em cima da rocha, Lobo morto).
Um dia o Lobo chamou o Chibinho e, armado em esperto, pediu-lhe que lhe tirasse uma coisa entre os dentes que o estava a incomodar. Quando o Chibinho pegou numa agulha, o Lobo gritou bem alto: “Chibinho não, isso não, que uma ponta de agulha matou a minha avó”. Então, o Chibinho foi buscar um espeto e assim que o Lobo viu gritou novamente: “Isso não, que matou a minha mãe”. O mesmo sucedeu com o alfinete pelo que o Chibinho decidiu tentar usar a própria mão para ver se assim já conseguia ajudar o tio. Mal colocou um dedo na boca do Lobo, este agarrou-o, fechando a boca. Faminto, o Lobo disse que só o soltaria se o Chibinho o levasse ao sítio onde costumava comer. Este assustou-se muito e pediu ao tio que o soltasse enquanto iam mas o Lobo não aceitou pois ele era muito malandro e fugiria. Sem opção, o Chibinho levou o tio à figueira onde costumava comer. Ai chegados, o Chibinho pediu ao Lobo que o soltasse, o que este aceitou. A figueira tinha muitos frutos e o Chibinho disse: “Rema abaixo”. A árvore fez descer os ramos e ele comeu até ficar com a barriga cheia. Vendo isso, o Lobo, em vez de dizer o mesmo, disse: “Rema acima”. A árvore subiu os ramos com ele pendurado num dos ramos, pelo que ficou muito alto. Sem se importar, o Lobo foi comendo enquanto o Chibinho, que já estava satisfeito, foi para a sua horta onde cultivava muitas coisas boas. Quando voltaram a encontrar-se, o Lobo perguntou ao Chibinho por onde tinha andado e este respondeu que tinha estado na sua horta. Quando o levou lá consigo, o Lobo mandou-o embora dizendo que o Chibinho não sabia tratar das plantações. Triste, o Chibinho foi-se embora. Um dia resolveu vingar-se do seu tio e levou-o a subir um rochedo. À medida que iam subindo, Chibinho ia enganando o Lobo dizendo-lhe que ali havia um monstro com os olhos arregalados. Este, todo assustado, correu rapidamente para chegar ao cimo do monte onde, sem se aperceber, caiu de costas e morreu. Satisfeito, o Chibinho desceu e foi à sua vida.
História contada por Dona Lorença, cabo-verdeana de 78 anos de idade, residente no Bairro da Quinta da Serra. Ilustrações feitas sobre canudos de suporte de papel higiénico por Eduarda Mendes (Lobo e Chibinho à procura de comida; Lobo e Chibinho com agulha), Carla Lopes (Lobo a morder o dedo do Chibinho; Chibinho e Lobo a caminho da figueira), Catarina Varela (Lobo na figueira, Lobo e Chibinho na horta), Moisés Mendes (Lobo em cima da rocha, Lobo morto).
Wednesday, October 03, 2007
COCAI reúne pela primeira vez na Assembleia da República
A sala do Senado da Assembleia da República acolheu no dia 24 de Setembro, pela primeira vez, uma Reunião Extraordinária do Conselho Consultivo para os Assuntos de Imigração (COCAI). O convite para que este encontro tomasse lugar num espaço de tão grande representação do sistema democrático português, veio do Presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, que fez questão de estar presente na abertura da reunião.
Após enaltecer este marco histórico no parlamento português, o Alto-comissário para a Imigração e Diálogo Intercultural, Rui Marques deu por aberto o início do debate da primeira sessão. O tema foi a Participação Política dos Imigrantes – Desafios à sociedade de acolhimento e aos imigrantes. O ex - Comissário europeu, António Vitorino, falou da participação política na União Europeia referindo que não obstante algumas falhas, os casos europeus devem ser exemplares para o país.
O coordenador da Plataforma das Estruturas Representativas das Comunidades Imigrantes (PERCIP), Paulo Mendes comentou positivamente com o À Bolina as intervenções da manhã e considerou interessantes as perspectivas de cada orador em relação a participação política dos imigrantes.
Direito a participar
O representante do Partido Popular, Nuno Magalhães lembrou que o importante é de facto a participação cívica e não política. Referiu ainda, que o direito ao voto deve ser exercido mas com regras claras. “A participação política não é somente o exercício do voto, constitui ainda um pluralismo político”, afirmou. O Bloco de Esquerda, representado pela deputada Ana Drago, frisou que os imigrantes já se integraram e que agora falta que participem na vida política, votando por exemplo nas legislativas. Celeste Correia, em representação do Partido Socialista, defendeu um direito igualitário nas eleições autárquicas, sublinhou que o seu partido fez muito para resolver os problemas dos imigrantes e que não lhes foi permitido fazer mais devido aos vetos dos outros partidos.
COCAI, instrumento de participação política
“Esta reunião já demonstra em si a participação dos imigrantes na sociedade portuguesa.” Foi com esta afirmação que o Ministro da Presidência do Conselho de Ministros, Pedro Silva Pereira, iniciou a sua intervenção no encerramento deste encontro. Pedro Silva referiu ainda que debates deste tipo permitem avançar para novos desafios há medida que se vão resolvendo problemas anteriores. Destacou, neste âmbito, a aprovação da lei da nacionalidade que, ao facilitar a aquisição da nacionalidade portuguesa, tem tido grande adesão por parte dos imigrantes. Considerou ainda que o COCAI é um instrumento de participação dos imigrantes pois “representa em si o centro de processo de participação política”. É pela via do COCAI que o governo intervém, mesmo que indirectamente nas associações locais dos imigrantes, pelo Programas Escolhas e pela Rede UNIVA que tem actuado como uma forma de integração dos imigrantes.
Texto de Surraia Correia
Após enaltecer este marco histórico no parlamento português, o Alto-comissário para a Imigração e Diálogo Intercultural, Rui Marques deu por aberto o início do debate da primeira sessão. O tema foi a Participação Política dos Imigrantes – Desafios à sociedade de acolhimento e aos imigrantes. O ex - Comissário europeu, António Vitorino, falou da participação política na União Europeia referindo que não obstante algumas falhas, os casos europeus devem ser exemplares para o país.
O coordenador da Plataforma das Estruturas Representativas das Comunidades Imigrantes (PERCIP), Paulo Mendes comentou positivamente com o À Bolina as intervenções da manhã e considerou interessantes as perspectivas de cada orador em relação a participação política dos imigrantes.
Direito a participar
O representante do Partido Popular, Nuno Magalhães lembrou que o importante é de facto a participação cívica e não política. Referiu ainda, que o direito ao voto deve ser exercido mas com regras claras. “A participação política não é somente o exercício do voto, constitui ainda um pluralismo político”, afirmou. O Bloco de Esquerda, representado pela deputada Ana Drago, frisou que os imigrantes já se integraram e que agora falta que participem na vida política, votando por exemplo nas legislativas. Celeste Correia, em representação do Partido Socialista, defendeu um direito igualitário nas eleições autárquicas, sublinhou que o seu partido fez muito para resolver os problemas dos imigrantes e que não lhes foi permitido fazer mais devido aos vetos dos outros partidos.
COCAI, instrumento de participação política
“Esta reunião já demonstra em si a participação dos imigrantes na sociedade portuguesa.” Foi com esta afirmação que o Ministro da Presidência do Conselho de Ministros, Pedro Silva Pereira, iniciou a sua intervenção no encerramento deste encontro. Pedro Silva referiu ainda que debates deste tipo permitem avançar para novos desafios há medida que se vão resolvendo problemas anteriores. Destacou, neste âmbito, a aprovação da lei da nacionalidade que, ao facilitar a aquisição da nacionalidade portuguesa, tem tido grande adesão por parte dos imigrantes. Considerou ainda que o COCAI é um instrumento de participação dos imigrantes pois “representa em si o centro de processo de participação política”. É pela via do COCAI que o governo intervém, mesmo que indirectamente nas associações locais dos imigrantes, pelo Programas Escolhas e pela Rede UNIVA que tem actuado como uma forma de integração dos imigrantes.
Texto de Surraia Correia
Tuesday, October 02, 2007
História nº 1: Cabra Gazela
Ilustração Iolanda Fernandes
Havia uma cabra que tinha sete chifres e três cabritos. Sempre que ia ao monte comer ervas recomendava aos seus cabritos para que, enquanto estivesse fora, não abrissem a porta a ninguém excepto a ela. Quando regressava a casa a cabra vinha com o peito cheio de leite e ervas enroladas nos chifres para alimentar os seus filhos.
Um dia, quando a Cabra foi ao monte, o Lobo foi a casa da cabra fingindo que era a mãe dos cabritos e eles abriram-lhe a porta. O Lobo perguntou aos cabritos se estavam sozinhos em casa e eles responderam que sim.
Ilustração Alina Moreira
Quando os cabritos perceberam que não era a mãe deles ficaram muito assustados e o Lobo, tentando ser simpático, aproximou-se dos cabritos dizendo-lhes para não ficarem com medo pois ele era como se fosse a mãe deles. Por fim, acabou por comê-los todos. Quando a Cabra regressou bateu à porta, não ouviu os seus filhos a chorar e percebeu que não estavam lá e que tinha acontecido alguma coisa. Entretanto o Lobo, todo vaidoso, foi ter com o seu sobrinho Chibinho, e disse-lhe que tinha conseguido enganar a Cabra porque tinha comido os seus três cabritos e que quando ela voltasse não ia encontrar ninguém em casa.Ilustração Ana Sofia Lopes
Mais tarde, a Cabra foi ter com o Chibinho e explicou-lhe o que aconteceu. Pediu ajuda ao seu amigo para descobrir quem lhe teria feito aquilo. O Chibinho contou-lhe que tinha sido o Lobo a comer os cabritos. A Cabra pediu então ao Chibinho para a ajudar a recuperar os filhos. Este teve a ideia de fazer uma festa na casa do compadre dele para ajudar a apanhar o Lobo.Ilustração Ana Sofia Lopes
Rapidamente organizaram uma festa e o Chibinho disse à Cabra para ir vestida com sete saias, sete blusas e sete lenços na cabeça e que também ia dizer ao Lobo para vestir sete calças, sete camisas e sete chapéus. Todo vaidoso, o Lobo aceitou o convite e mostrou-se muito animado com a festa.
No dia da festa, no meio de tanta dança, a Cabra aproximou-se do Lobo e começou a cantar:
"Maria, Maria, tua mãe, Madalena, sai fora e vem me tirar leite desta mama e as ervas dos chifres".Ilustração Ana Francisca Lopes
O Lobo, também vaidoso e a dançar, cantava dizendo que tinha conseguido enganar a Cabra porque comeu os três filhos dela. À medida que o Lobo e a Cabra cantavam iam-se despindo. O Lobo ia tirando uma a uma as calças e as camisas e o chapéus enquanto a Cabra ia tirando as sete saias, sete blusas e sete lenços. Notando que ela tinha uma figura estranha, o Lobo começou a perguntar porque é que ela tinha os pés daquela maneira e tanto cabelo. A Cabra respondeu que os seus pés eram mesmo assim e que realmente tinha muito cabelo. A Cabra continuou a dançar e a cantar. Quando o Lobo percebeu que era mesmo a Cabra tentou fugir, enquanto esta o ia atacando com os chifres. Disse ao Chibinho para lhe abrir a porta porque estava aflito para ir fazer chichi e cócó. O Chibinho respondeu que não podia abrir a porta porque não tinha as chaves e que tinha deitado fora tal como o Lobo lhe tinha pedido quando estava muito animado com a festa. A verdade é que o Chibinho tinha fingido atirar a chave fora e o que mandou foram pedaços de um caldeirão de ferro. Enquanto isso, a cabra continuava a dar chifradas na barriga do lobo até que conseguiu arrebentar a barriga do Lobo e os cabritos saíram logo para alimentar-se no peito da mãe. O Lobo ficou todo aberto no chão e morreu enquanto a Cabra foi para casa muito contente com os seus filhos.Ilustração Vilma Sanhá
Narrada por D. Maria, a avó do Zeca Semedo, em crioulo de Cabo-Verde, e traduzida em português pela D. Antonieta.
Havia uma cabra que tinha sete chifres e três cabritos. Sempre que ia ao monte comer ervas recomendava aos seus cabritos para que, enquanto estivesse fora, não abrissem a porta a ninguém excepto a ela. Quando regressava a casa a cabra vinha com o peito cheio de leite e ervas enroladas nos chifres para alimentar os seus filhos.
Um dia, quando a Cabra foi ao monte, o Lobo foi a casa da cabra fingindo que era a mãe dos cabritos e eles abriram-lhe a porta. O Lobo perguntou aos cabritos se estavam sozinhos em casa e eles responderam que sim.
Ilustração Alina Moreira
Quando os cabritos perceberam que não era a mãe deles ficaram muito assustados e o Lobo, tentando ser simpático, aproximou-se dos cabritos dizendo-lhes para não ficarem com medo pois ele era como se fosse a mãe deles. Por fim, acabou por comê-los todos. Quando a Cabra regressou bateu à porta, não ouviu os seus filhos a chorar e percebeu que não estavam lá e que tinha acontecido alguma coisa. Entretanto o Lobo, todo vaidoso, foi ter com o seu sobrinho Chibinho, e disse-lhe que tinha conseguido enganar a Cabra porque tinha comido os seus três cabritos e que quando ela voltasse não ia encontrar ninguém em casa.Ilustração Ana Sofia Lopes
Mais tarde, a Cabra foi ter com o Chibinho e explicou-lhe o que aconteceu. Pediu ajuda ao seu amigo para descobrir quem lhe teria feito aquilo. O Chibinho contou-lhe que tinha sido o Lobo a comer os cabritos. A Cabra pediu então ao Chibinho para a ajudar a recuperar os filhos. Este teve a ideia de fazer uma festa na casa do compadre dele para ajudar a apanhar o Lobo.Ilustração Ana Sofia Lopes
Rapidamente organizaram uma festa e o Chibinho disse à Cabra para ir vestida com sete saias, sete blusas e sete lenços na cabeça e que também ia dizer ao Lobo para vestir sete calças, sete camisas e sete chapéus. Todo vaidoso, o Lobo aceitou o convite e mostrou-se muito animado com a festa.
No dia da festa, no meio de tanta dança, a Cabra aproximou-se do Lobo e começou a cantar:
"Maria, Maria, tua mãe, Madalena, sai fora e vem me tirar leite desta mama e as ervas dos chifres".Ilustração Ana Francisca Lopes
O Lobo, também vaidoso e a dançar, cantava dizendo que tinha conseguido enganar a Cabra porque comeu os três filhos dela. À medida que o Lobo e a Cabra cantavam iam-se despindo. O Lobo ia tirando uma a uma as calças e as camisas e o chapéus enquanto a Cabra ia tirando as sete saias, sete blusas e sete lenços. Notando que ela tinha uma figura estranha, o Lobo começou a perguntar porque é que ela tinha os pés daquela maneira e tanto cabelo. A Cabra respondeu que os seus pés eram mesmo assim e que realmente tinha muito cabelo. A Cabra continuou a dançar e a cantar. Quando o Lobo percebeu que era mesmo a Cabra tentou fugir, enquanto esta o ia atacando com os chifres. Disse ao Chibinho para lhe abrir a porta porque estava aflito para ir fazer chichi e cócó. O Chibinho respondeu que não podia abrir a porta porque não tinha as chaves e que tinha deitado fora tal como o Lobo lhe tinha pedido quando estava muito animado com a festa. A verdade é que o Chibinho tinha fingido atirar a chave fora e o que mandou foram pedaços de um caldeirão de ferro. Enquanto isso, a cabra continuava a dar chifradas na barriga do lobo até que conseguiu arrebentar a barriga do Lobo e os cabritos saíram logo para alimentar-se no peito da mãe. O Lobo ficou todo aberto no chão e morreu enquanto a Cabra foi para casa muito contente com os seus filhos.Ilustração Vilma Sanhá
Narrada por D. Maria, a avó do Zeca Semedo, em crioulo de Cabo-Verde, e traduzida em português pela D. Antonieta.
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