Ilustração: Ruben Oliveira
Era uma vez um homem que tinha duas mulheres e quando uma morreu a filha desta ficou com a madrasta e os seus irmãos. A madrasta não gostava dela e por isso obrigava-a a fazer todo o trabalho lá em casa enquanto as suas irmãs brincavam.
Certo dia em que a rapariga foi à fonte buscar água partiu a bilha. Quando voltou para a casa, contou à madrasta o que tinha sucedido e esta, furiosa, ralhou com ela dizendo-lhe que arranjasse uma outra bilha nem que para tal morresse tal como a sua mãe. Então a menina saiu à procura de uma mulher que costumava fazer bilhas para vender.
Pelo caminho, ia a cantar:
N´tchanha, n´tchanha.
Cilorabinta.
N´tchanha, n´tchanha.
Cilorabinta.
Ntchanha massacunda
Cilorabinta.
Ntchanha massacunda
Cilorabinta.
Tété té cilorabinta.
Tété té cilorabinta.
Enquanto ia a cantar encontrou um leão e perguntou-lhe se sabia onde era a casa da tal senhora. O leão disse-lhe para seguir o caminho em frente. Até que encontrou um macaco que lhe disse o mesmo e depois uma gazela que também disse para seguir aquele caminho.
A rapariga continuou a caminhar até encontrar uma senhora que tomava banho numa lagoa. A mulher pediu que lhe esfregasse as costas e quando o fez cortou-se toda nas mãos porque as costas da mulher eram de ostras. A senhora disse-lhe para bater as mãos na água. Assim fez e as feridas sararam.
A seguir a senhora disse à menina para ir para casa com ela, esmagar arroz, cozinhar e comer. Assim fez e a mulher, que era uma feiticeira serpente, disse-lhe que a iria transformar numa agulha e colocá-la em cima do telhado porque os filhos estavam a regressar da lagoa e poderiam comê-la.
Quando chegaram, os meninos comeram o arroz e quando começaram a sentir cheiro de pessoa humana disseram à mãe. Esta disfarçou dizendo que não havia ninguém em casa e mandou-os de novo para a lagoa.
A mulher voltou a transformar a menina em ser humano e deu-lhe três ovos. Disse-lhe que no caminho para casa deveria parti-los sempre no final de cada canção. Deveria cantar seis vezes cada uma e só no último ovo é que poderia olhar para trás.
Obediente, a rapariga fez tudo o que a feiticeira lhe disse e quando olhou para trás viu uma casa enorme, bonita e com muitas coisas. A rapariga pegou numa bilha, foi para casa e deu-a à madrasta.
Com raiva por ela ter conseguido voltar, trazendo uma bilha, a madrasta ficou cheia de ciúmes e resolveu mandar a sua filha fazer o mesmo caminho para ver se conseguia uma casa como a da sua meia-irmã.
Quando ela começou a fazer o mesmo percurso, encontrou uma serpente a tomar banho. Esta pediu-lhe que lhe esfregasse as costas mas a rapariga respondeu:
-O quê? Em casa não costumo esfregar as costas da minha mãe. Então porque é que haveria de esfregar as suas?
Pediu-lhe então para irem para casa, cozinhar arroz. A menina respondeu:
-O quê? Em casa não cozinho e nem faço nada.
Mais tarde, a feiticeira disse que ia transformá-la em agulha mas ela também não quis.
Como não conseguiu transformar a rapariga em agulha, a feiticeira escondeu-a atrás da porta para que os seus filhos não a comessem. Quando estes regressaram, comentaram com a mãe que sentiam cheiro de carne humana mas ela conseguiu enganá-los e voltaram para a lagoa.
Então a feiticeira deu três ovos para a rapariga e explicou-lhe o que fazer com elas enquanto voltava para casa. Teimosa como era, a moça não seguiu as recomendações e assim que foi lavar os pés na lagoa, foi imediatamente picada pelas serpentes e morreu.
Ilustração: Fábio Vieira
Esta história, tradicional da Guiné, foi-nos contada pelo nosso amigo Junilto Netchemo (ambuduco.blogspot.com), de 13 anos e chegado a Portugal em Dezembro de 2006 - ao mesmo tempo que nós chegámos ao Bairro da Quinta da Serra, onde o conhecemos.
Tuesday, October 23, 2007
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