Tuesday, January 23, 2007

A música como companhia



O Adilson tem saudades da Praia. Deixou a sua terra em 2000 para vir trabalhar em Portugal, como servente nas obras, e agora é com a música – enquanto trabalha está sempre a cantar - que dá voz às suas emoções e pensamentos. Os seus músicos favoritos – o Gil, a Susana e o Beto - fazem carreira em Cabo-Verde. «O Gil tem todo o estilo de música, hip-hop, reggae, embora faça sobretudo kizomba. E canta em inglês, crioulo, português. Já o Beto faz funaná e kizomba.» Conhece-os, claro. Cabo-Verde tem uma escala mais humana. «Lá é mais fácil tornar-se músico».
Enquanto não cumpre o sonho de voltar a casa, quando chega ao Bairro da Quinta da Serra pela tardinha – sai de madrugada para trabalhar do outro lado do Tejo – compõe as suas canções. Batuque, funaná, kizomba, hip-hop, todos estes géneros musicais lhe servem de inspiração. A música descobriu-a em casa. «Encontrei música em casa. Quando cresci o meu tio, Tutu, já tocava e eu aprendi.» Foi em 1996, porém, que Adilson participou num concurso, na Praia, e ficou logo em quarto lugar. Ganhou estímulo e continuou a tocar, sozinho.
Seguiu-se a decisão de mudar de vida. E ser músico é incompatível com o projecto que o trouxe para cá. «Há grupos que me convidam para tocar só que é à noite, o que é complicado.» Não quer repetir a vez que faltou ao trabalho por causa de um serão de cantigas… É que já tocou em cafés, inclusive fora de Lisboa.
Por isso concentra-se na composição. Tem originais, gravados em casa, a que falta dar voz. É que com o frio e as gripes, a sua voz não tem afinado pelas notas que dá a guitarra. «Estou a trabalhar para fazer um CD. Já tenho 10 músicas. E tenho editoras interessadas. Mas não sei como serão as condições, o contrato.» O facto é que não tem padrinhos e, em todos os contactos, foi ter directamente com as editoras.
O seu género favorito é o funaná. Quanto ao hip-hop, começou em Portugal «mais por influência, por estar na moda». E por que tem facilidades em fazer rimas, porque não basta querer… A experiência de vida em Portugal mudou-lhe a música. «Tive mais experiências. Vou absorvendo e mudando o meu estilo. Quanto ao estilo, mesmo estilo, mudei pouco mas mudei mais a maneira de fazer. Fazia mais funanás tradicionais. Agora faço mais funaná com house.»

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