Monday, October 29, 2007
O desafio da vida
Maria Vieira Rodrigues – gosta que lhe chamem Dirce – nasceu há 37 anos, na Praia, em Cabo-Verde. A actual responsável pelo apoio escolar do À Bolina tornou-se professora primária depois de completar o 12º ano no Instituto Pedagógico mas quando terminou o curso estava cheia de medo. “Não conseguia encarar os alunos.”
Pensou que a solução para a sua insegurança era o ensino no interior de Santiago, sua ilha natal, pois acreditava que aí “os alunos eram mais alunos”. Quando chegou a Assumada, as suas expectativas foram completamente frustradas. “Fiquei com a turma mais problemática. Na altura tinha 24 anos mas já tinha a minha filha e tinha de ganhar a vida: fui-me acostumando.”
Ao longo de cinco anos passou por várias escolas da região. Até que veio a Portugal passar férias e acabou por ficar. Dois anos após a primeira experiência de vida em terras portuguesas emigrou para os EUA, desafiada pelo irmão mais velho.
Mas o 11 de Setembro de 2001 mudou a sociedade americana e o fechamento desta ditou que, em 2002, não conseguisse trabalho. Por insistência dos pais, regressou então a Cabo Verde. Após ser reintegrada na escola deu aulas durante dois anos até que, de 2005 a 2007, geriu uma escola. Chamada “Bairro”, esta é uma escola sem electricidade onde não há professores para o acompanhamento dos alunos com necessidades especiais aí existentes. A impossibilidade de terem suporte tecnológico para as actividades é um dos males menores deste espaço que não pode acolher quaisquer seminários. Ainda assim foi possível introduzir melhorias. Com o apoio da cooperação francesa conseguiram vedar o espaço da escola – alvo de assaltos e de interrupções frequentes das aulas até então – a que se seguiu a angariação de um apoio para o horto escolar.
O Programa Alimentar Mundial (PAM) manterá a ajuda a Cabo Verde até 2010. “Por isso todas as escolas estão a procurar ter o seu horto escolar para obter uma maior autonomia.” Os excedentes da horta que são vendidos permitem financiar serviços, como a limpeza do espaço, que não são pagos pelo governo do país. E permitem, sobretudo, garantir uma refeição diária aos alunos. Estes chegam por volta das 8h da manhã e ficam até ao 12h30 na escola mas a meio da manhã, às 10h, é-lhes servida uma refeição de arroz com peixe ou com carne, sopa e outros alimentos que, até ao momento, são fornecidos pelo PAM.
Este ano, o regresso a Portugal desta professora primária cabo-verdeana impôs-se por motivos de saúde da sua filha, Dircelina. Quando a conhecemos, na UNIVA da Quinta da Serra, procurava qualquer trabalho mas, com um sorriso, acrescentava sempre que podia que o que gostava mesmo era de trabalhar com crianças. Quando a Ângela Califórnia – a “Anja” dos meninos do apoio escolar – deixou o projecto, lembrámo-nos da Dirce e da experiência que trazia de Cabo-Verde. Ela aceitou o desafio.
“Eu gosto muito de ler. E tenho a ideia de escrever um livro, “O Desafio da Vida”. Quando aceitei a proposta de ser gestora em Cabo Verde era um desafio. Não tinha formação e pensei que havia pessoas mais experientes. Mas aceitei e geri uma escola com três cozinheiras, 16 professores e 400 alunos. O desafio está sempre atrás de mim ou à minha frente. Quando falou comigo o Zé Carlos disse-me que tinha um desafio para me fazer. Assumi-o. Nada acontece por acaso.”
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
4 comments:
Nada acontece por acaso mesmo!!!
Bem vinda Dirce!
Vai ser mesmo uma alegria muito grande podermos contar consigo!!
Um grande abraço
Nair
Força Dirce!
Obrigada!
Como é bom saber que do outro lado da cortina tem pessoa a contar comigo.Obrigada mesmo de coração.
beijinhos
Dirce
Post a Comment