Monday, December 10, 2007

História nº 9: Branca Flor


Ilustração de Eduino Silva

Era uma vez um casal muito rico que, quando estava quase a morrer, legou toda a riqueza ao filho. Este gastou o dinheiro todo e quando não tinha nada pensou suicidar-se numa lagoa.

Desesperado, quando chegou à lagoa viu um feiticeiro que lhe ofereceu uma moeda. Este disse-lhe que quando enriquecesse voltasse ali e lhe devolvesse a moeda. O jovem concordou e quando enriqueceu foi ter com o feiticeiro que se chamava Mustafá. Encontrou-se com a mulher que ia permitir o seu encontro com o Mustafá através da preparação de rituais. Quando conseguiu passar para o outro lado da vida viu três feiticeiras a tomarem banho numa lagoa.

Ilustração: Inácio Júnior

A mais nova das feiticeiras disse a uma das irmãs que estava a sentir cheiro de humano. Esta feiticeira, que se chamava Branca-Flor, já sabia que o rapaz estava ali mas como gostava dele, respondeu que não sentia nada.

O rapaz foi ter com as feiticeiras, que estavam transformadas em serpentes, e, depois de lhes explicar o que pretendia, elas levaram-no para ir ter com o pai delas.

O Mustafá queria matar o rapaz para comer e começou a arquitectar um plano. Primeiro mandou-o à floresta buscar um búfalo. O rapaz assim fez e, com a ajuda da Branca-Flor, conseguiu trazer um búfalo. Depois, mandou o rapaz plantar arroz e cozinhar no mesmo dia. Ele também conseguiu fazer isso com a ajuda da menina feiticeira.

Ilustração: Amari Dias

A rapariga, que sabia qual era a intenção do seu pai, queria ajudar o seu amado. Disse-lhe para ir ao estábulo e que escolhesse o cavalo mais veloz para conseguir fugir logo de manhã cedo. A rapariga cuspiu sete vezes para o chão para que quando a sua mãe a chamasse pela manhã pensasse que era mesmo ela que respondia. De manhã cedo, quando a mãe a chamou, foram os cuspes a emitir a voz da Branca-Flor. A mãe desconfiou no entanto, e foi ver onde estava o rapaz.

Como não encontrou nenhum deles, disse ao marido que a sua filha tinha fugido com o rapaz, ordenando-lhe que fosse atrás deles.

Mustafá assim fez. Pelo caminho passou por uma escola onde as crianças estavam no recreio. Havia ali muitos professores e como o seu poder era fraco em relação à filha não conseguiu perceber que afinal esta se tinha transformado numa professora e o rapaz num professor.

Voltou para trás e disse à mulher que não os tinha encontrado. Esta ficou furiosa porque sabia que eles que se estavam a fazer passar por professores. Mandou-o de novo para ver se conseguia encontrá-los mas este não teve sorte porque desta vez encontrou uma capela com uma freira e um padre. Sem desconfiar que poderiam seriam eles, o feiticeiro voltou para casa e descreveu à mulher o que tinha encontrado. Finalmente, a mulher decidiu ser ela a ir atrás deles. Depois de muito procurar, encontrou-os mas estes saltaram para o outro lado do rio para não serem apanhados. De um lado a mãe gritava:

    Ilustração: Isinildo Monteiro

    - Branca-Flor devolve-me a chave do armazém e fica a saber que te vais separar do rapaz com quem nos traíste durante seis meses.

    A menina do outro lado respondia:

    - Mãe, tu também te vais separar do meu pai durante seis meses.

Quando Branca atirou a chave acertou num olho da mãe. Quando regressou para casa Mustafá separou-se dela porque tinha um olho furado. No entanto também a Branca-Flor acabou por separar-se do seu amado.

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