Friday, December 28, 2007

A festa de Natal de ASCQS

A festa de Natal promovida pela Associação Sócio-Cultural da Quinta da Serra para as crianças do bairro da Quinta da Serra, decorreu no dia 22 de Dezembro, desde as 11h da manhã até às 13h, no «salon polon».
A festa iniciou-se com uma demonstração de capoeira, jogos tradicionais e elaboração de desenhos temáticos sobre o Natal. Seguiu-se um lanche oferecido pela Associação ao som de canções de Natal e outras. No final da festa cada criança recebeu uma prenda com sorriso.
Esta festa teve a participação dos Médicos do Mundo, técnicos do projecto Á Bolina além de jovens do bairro.
Texto: Dirce Rodrigues



Labrador oferece cabazes de Natal às famílias das crianças do apoio escolar


Desta vez todas as famílias das crianças que frequentam o apoio escolar do nosso projecto receberam um cabaz oferecido pela marca de roupa portuguesa de qualidade, Labrador. Os pais dessas crianças ficaram muito contentes e agradeceram pela atenção.
Os cabazes foram entregues pelo coordenador do projecto José da Costa Ramos às famílias e explicou-lhes o gesto bonito por parte do Labrador que simpatizou com o trabalho desenvolvido pelo À Bolina no bairro.

Texto: Surraia Correia

Fotos: José da Costa Ramos

Thursday, December 27, 2007

Depois do cinema, o Hard Rock


Após o visionamento do "ET" ainda sobrou tempo para um passeio pelos Restauradores e pelo Rossio. É claro que era obrigatória uma visita ao Hard Rock Café, que se instalou no antigo cinema Condes. Nunca nenhum de nós lá tinha ido e ficámos surpreendidos com a simpatia com que nos convidaram a entrar, a ver a exposição de instrumentos, roupas de artistas e discos de rock. Logo à entrada estão várias peças que pertenceram aos Xutos&Pontapés. Mas o que cria mais impacto, claro, é o descapotável pendurado em cima do palco. No primeiro andar, mais calmo e acolhedor, a exposição continua. Ai ficam as fotos.

O lanche de Natal do À Bolina

A Festa de Natal do projecto tal como já tinhamos anunciado, decorreu no dia 20 de Dezembro e foi para as crianças e jovens que estiveram presentes uma tarde de convívio cheio de coisas boas e deliciosas.Como é de se esperar, em tempo de festa, os mais pequenos foram desafiados a cantar as canções de Natal que todos conhecemos. Apesar das vozes desafinadas aceitaram o dasafio proposto pela Dirce, a responsável pelo apoio escolar e lá cantaram algumas músicas.
Mas nada melhor que as fotos para partilhar este lanche de final de tarde que aconteceu nos espaços do À Bolina.
Texto Surraia Correia
Fotos: José da Costa Ramos

À Bolina na Cinemateca Júnior

Quando ainda em Outubro de 2007 me reuni com a Antónia Fonseca e a restante equipa da Cinemateca Júnior para averiguar da possibilidade de experimentarmos uma formação com continuidade de rapazes e raparigas abrangidos pelo Programa Escolhas não imaginava a intensidade que esta experiência com este grupo de rapazes e raparigas da Quinta da Serra viria a adquirir.
Durante semanas habituámo-nos a chegar e a encontrar os sorrisos de todos, mas sobretudo da Mariana e da Neva. E o da Antónia, claro, que descia a correr, da Barata Salgueiro até aos Restauradores, para receber, para falar com o grupo dos filmes que escolheu com tanto cuidado. Alguma inquietude - é a da idade - e uma enorme alegria foram constantes da parte do grupo. E os afectos, sim. Porque neste até já - esperamos -, até 2008, ficamos cheios de saudades.
É preciso saber que, para estes rapazes e raparigas, não é um hábito ir ao cinema. Os pais, imigrantes, trabalham muito e nem sempre têm à vontade para se moverem nos nossos espaços públicos. O espaço público que conhecem é outro onde, não obstante algumas manifestações de criminalidade de que são as maiores vítimas, perdura um certo sentido de vizinhança e uma vivência que reproduz a das suas comunidades de origem.
Também é preciso saber que durante cinco semanas estes rapazes e raparigas sairam da escola a correr para, mal-almoçados, virem ver que surpresa tinha a Antónia preparado ou para ouvir a Neva explicar-lhes as estórias do pré-cinema. É preciso sublinhar que a vontade com que o Eduino e o Isinildo apanharam o 45, que na sua marcha lenta, os trouxe do Prior Velho aos Restauradores, nos dias em que perderam o transporte da câmara de Loures ou da paróquia do Prior Velho.
Que conste ainda a tentativa do Ruben de construir uma lanterna mágica. E como para eles Manoel de Oliveira se tornou um cineasta conhecido. Quando fez 99 anos reparam nas entrevistas que deu. E, sobretudo, não se esquecem dos risos e das emoções que lhes causaram o "Charlot", o "Sr. Hulot", o "ET" e o "Aniki Bóbó". Tão cedo não esquecem fórmula mágica que ainda no outro dia cantaram em coro a brindar a chegada da Antónia:
"Aniki-bébé / Aniki-bóbó
Passarinho Tótó
Berimbau, Cavaquinho
Salomão, Sacristão
Tu és Polícia, Tu és Ladrão".

Os nossos agradecimentos à Cinemateca Júnior.

Texto: Maria do Carmo Piçarra
Fotos: Ana Sofia Lopes

Wednesday, December 26, 2007

Escolhas de Portas Abertas

Um ano após o início da terceira geração do programa Escolhas, os projectos foram desafiados a abrir as suas portas e a dar-se a conhecer. Aos vizinhos mas também a quem não conhece este programa de inclusão social do ACIDI. A reportagem ilustra bem o entusiasmo e também as dificuldades com que se trabalha.

Projecto da Semana - Esperança (Loures)

Os nossos amigos do Esperança foram projecto Escolhas da semana há pouco tempo. Ai fica o filme que revela um pouco melhor o que está a acontecer no Escolhas dos Terraços da Ponte.

Friday, December 21, 2007

Famílias recebem cabazes oferecidos pelas escolas

No dia 19 de Dezembro, pelas 15 horas, o À Bolina fez a entrega de cabazes de Natal a seis famílias residentes do bairro da Quinta da Serra.
Dos quatro cabazes oferecidos pela Escola Secundária Bartolomeu Dias, dois foram para as famílias escolhidas pela escola, tendo os restantes sido entregues às famílias consideradas mais necessitadas.
Para representar a escola tivemos a presença da professora Silvia Baptista que entregou os cabazes a familiares de alunos da escola.
O cabaz de Natal oferecido ao projecto pela Escola Delfim dos Santos, onde o nosso amigo Junilto Netchemo estuda, também foi repartido por duas famílias.

Texto: Surraia Correia

Thursday, December 20, 2007

Kotalume actua na festa da produtora Filho Único

O Kotalume, nome artístico de Adilson Moreno, vai actuar na festa de Natal da produtora Filho Único. O concerto será no dia 21 de Dezembro, na Avenida da Liberdade número 211, com início previsto pelas 21h30.
Esta nova voz do funaná, que reside na Quinta da Serra não tem parado e está mesmo disposto a conquistar o mercado discográfico português. Juntamente com ele também vão actuar alguns grupos que fizeram parte do CD 9 Bairros Novos Sons, como os N`Gapas e os Richaz & KéKe .
Esperemos que consigam vencer este caminho que está a desenhar-se muito bem e aproveitamos para convidar os nossos leitores do blog que ainda não os conhecem para não deixar de ver e ouvir o trabalho deles.

Fábio: Depois do êxito de Verão, o postal de Natal

Festa de Natal Escolhas foi um sucesso

Decorreu ontem, no Cine Teatro Joaquim de Almeida, no Montijo, a primeira festa de Natal do Escolhas. Preparada com grande dedicação pela equipa de coordenação do Escolhas e com recurso aos enormes talentos existentes nos projectos de todo o país, o encontro foi um sucesso. Apesar da chuva e do vento, que provocou grandes filas de trânsito, os técnicos e meninos e jovens de todo o país foram chegando e encheram a sala de espectáculos com a sua alegria.

Foram recebidos pelos coordenadores e técnicos do Escolhas, que, com as suas camisolas amarelas, distribuiram os projectos pelos lugares que lhe estavam destinados. A presidente da câmara do Montijo e o Alto Comissário para a Imigração e Diálogo Intercultural, Rui Marques, deram as boas vidas e, após a exibição de um pequeno filme que registou momentos vividos recentemente, durante o Escolhas Portas Abertas, começou o desfile de artistas.

Desde os The Puppets, que vieram dançar breakdance, aos Cabeçudos que vieram de Viana do Castelo, passando pelos Império Suburbano, de Sacavém, e pela dupla Ritchaz&Keke, da Outurela - que participaram no CD "Nove Bairros, Novos Sons" - ou pelas danças africanas das "Chocolate Lusófono" e pela demonstração de flamenco chegada do projecto Escolhas Vivas do Algarve, o desfile de talentos no palco do Joaquim de Almeida contagiou o público, muito participativo.

No final, Urbano Oliveira conduziu a audiência, que se transformou numa orquestra de percursionistas, naquela que foi a grande surpresa da tarde.

Texto: Maria do Carmo Piçarra
Fotos: Escolhas

Tuesday, December 18, 2007

Crianças do ATL no Circo

As crianças do ATL da escola EB1 do Prior Velho foram ao circo juntamente com os colegas e professores e quiseram fazer uma composição sobre este dia. Ficam aqui alguns testemunhos recolhidos pela animadora.


Maria:
O palhaço era muito engraçado.
O mágico fez desaparecer o rádio e gostei do Pai Natal porque deu presentes.

Marco:
Gostei das magias que o mágico fez quando queimou a pastilha e transformou em ferro.
Ofereceram-me uma mochila nova.
Gostei do Pai Natal,gostei quando a Teresa acertou no chapéu e da Raquel a cantar, dos três robots que dançavam e faziam magia.

Teresa:
Gostei da Raquel, era uma senhora que estava lá a cantar para as crianças. Gostei do Pai Natal porque ele foi bom para nós.
Gostei quando acertei no chapéu e ganhei um CD de música, “ Raquel do Universo”.
Gostei do circo porque me deram pipocas e a prenda.

Miguel
Gostei muito daquela parte quando as meninas trocaram de lugar e quando tiraram o palhaço dentro do baú.
Também, gostei quando as meninas cantaram.
Gostei dos palhaços quando traziam bandeiras do Porto, Benfica Sporting e de Portugal e quando dançavam.


Joana :
Gostei das mulheres que dançaram, dos três robots e dos palhaços.
Gostei das meninas que fizeram magia e trocaram de lugar e gostei ainda do mágico.

Luana:
Gostei muito da música que a Raquel cantou.
Ganhei um livro e pipocas.

Texto: Surraia Correia
Fotos: Cirque du Soleil

Apresentação do Mapeamento de Boas Práticas no Acolhimento e Integração de Imigrantes

Será apresentado hoje dia 18 de Dezembro, no âmbito das Comemorações do dia Internacional dos Migrantes,irá realizar-se um seminário de apresentação dos principais resultados do Mapeamento de Boas Práticas no Acolhimento e Integração de Imigrantes em Poprtugal. O local da apresentação será na Fundação Calouste Gulbenkian.
Com o objectivo de disponibilizar exemplos concretos de práticas, programas e medidas com vista à integração de imigrantes, a Organização Internacional das Migrações, o Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural e a Fundação Luso – Americana para o Desenvolvimento, promoveram ao longo deste ano a iniciativa do Mapeamento de Boas Práticas no Acolhimento e Integração dos Imigantes em Portugal.
Muitas instituições e entidades desenvolvem trabalhos que directa e indirectamente contribuem para uma melhor integração dos imigrantes na sociedade portuguesa.
Este manual visa facultar e trocar informação, promover iniciativas políticas de integração e apoiar os Estados membros da União Europeia com exemplos concretos de práticas de integração com vista a uma integração de maior sucesso na Europa.
Constacta-se ainda, que esta iniciativa prova aquilo que se tem vindo a desenvolver a nível Europeu, ao pretender fazer o reconhecimento dos trabalhos desenvolvidos por profissionais de diversos sectores de actividades na área do acolhimento e integração dos imigrantes em Portugal.

Texto: Surraia Correia

O Natal do À Bolina


O projecto À Bolina vai fazer a sua festa de Natal esta quinta-feira, dia 20 de Dezembro, pelas 16 horas. Estão convidados membros do consórcio, amigos, colaboradores e claro que os convidados de honra serão as crianças que diariamente aparecem no espaço para fazer os trabalhos de casa, ir ao CidNet e aproveitar ainda para brincar mesmo que faça muito frio lá fora.
Como é uma festa sobretudo de convívio, o lanche será partilhado, foi pedido aos convidados e às crianças que tragam alguma coisa de casa e que partilhem com todos.

Friday, December 14, 2007

À Bolina na Escola Delfim Santos


No dia 12 de Dezembro o coordenador do À Bolina, José da Costa Ramos, e a técnica do projecto, Maria do Carmo Piçarra, estiveram na Escola EB2,3 Delfim Santos para apresentar o Escolhas do Bairro da Quinta da Serra, no Prior Velho, aos alunos do 7ºD e receber um cabaz de Natal oferecido pelos alunos. A turma ofereceu ainda uma camisola do Benfica ao Junilto Netchemo, seu colega que se tem popularizado pela sua simpatia e também devido ao seu blogue http://ambuduco.blogspot.com. Durante a aula, José Costa Ramos falou da situação dos imigrantes em Portugal, um país também de imigrantes, e a técnica falou das mais valias em ter haver uma crescente diversidade cultural no país.

O Natal dos Escolhas


No próximo dia 19 de Dezembro, o Programa Escolhas irá realizar a sua festa de Natal para as crianças dos projectos Escolhas.
A festa acontecerá em Montijo, no Cine Teatro Joaquim de Almeida, e espera-se que estejam presentes cerca de 650 pessoas. Mais de 500 crianças e jovens com idades compreendidas entre os 10 e 16 anos irão passar uma tarde cheia de animação durante duas horas. Na programa está previsto a participação de nove projectos culturais entre outras surpresas não divulgadas.
No final, as crianças terão a oportunidade de fazer uma troca de prendas com crianças de outros projectos. Será uma troca meramente simbólica pelo que se espera que as crianças e jovens façam um pequeno presente, como um cartão por exemplo, que depois trocarão com crianças de outros projecto.

Tuesday, December 11, 2007

A opinião do João Paulo sobre a ida ao circo


Eu hoje gostei do circo. Gostei mais da parte da magia e quando recebemos os presentes. E gostei quando o Pai Natal apareceu. Não gostei quando a Raquel cantou porque ela cantava mal.

João Paulo Veiga Rosa, 10 anos

EB 1 do Prior Velho leva meninos ao circo


Para assinalar a proximidade do Natal e ainda antes do início das férias escolares, a Escola Básica 1 do Prior Velho levou hoje os meninos a uma sessão de circo que se realizou às 9h30 no Salão Polidesportivo do Prior Velho. O espectáculo incluiu palhaços e magia e no final foram distribuidas agendas e mochilas, oferecidas pela junta de freguesia local.

À Bolina já fez árvore de Natal


Quando ontem à tarde os meninos foram chegando ao Bairro da Quinta da Serra - após mais um dia de escola e cheios de animação com a perspectiva da ida de hoje ao circo - a Dirce esperava-os com uma surpresa. Durante a tarde sacudiu o pó da nossa árvore de Natal, montou-a e decorou-a num cantinho da sala de apoio escolar, junto à decoração de Natal que a Sílvia Baptista, da Escola Bartolomeu Dias, já tinha vindo oferecer. Ao entrarem na sala os meninos expontaneamente começaram a cantar canções de Natal. A alegria ficou registada na foto que publicaremos em breve...

Monday, December 10, 2007

História nº 9: Branca Flor


Ilustração de Eduino Silva

Era uma vez um casal muito rico que, quando estava quase a morrer, legou toda a riqueza ao filho. Este gastou o dinheiro todo e quando não tinha nada pensou suicidar-se numa lagoa.

Desesperado, quando chegou à lagoa viu um feiticeiro que lhe ofereceu uma moeda. Este disse-lhe que quando enriquecesse voltasse ali e lhe devolvesse a moeda. O jovem concordou e quando enriqueceu foi ter com o feiticeiro que se chamava Mustafá. Encontrou-se com a mulher que ia permitir o seu encontro com o Mustafá através da preparação de rituais. Quando conseguiu passar para o outro lado da vida viu três feiticeiras a tomarem banho numa lagoa.

Ilustração: Inácio Júnior

A mais nova das feiticeiras disse a uma das irmãs que estava a sentir cheiro de humano. Esta feiticeira, que se chamava Branca-Flor, já sabia que o rapaz estava ali mas como gostava dele, respondeu que não sentia nada.

O rapaz foi ter com as feiticeiras, que estavam transformadas em serpentes, e, depois de lhes explicar o que pretendia, elas levaram-no para ir ter com o pai delas.

O Mustafá queria matar o rapaz para comer e começou a arquitectar um plano. Primeiro mandou-o à floresta buscar um búfalo. O rapaz assim fez e, com a ajuda da Branca-Flor, conseguiu trazer um búfalo. Depois, mandou o rapaz plantar arroz e cozinhar no mesmo dia. Ele também conseguiu fazer isso com a ajuda da menina feiticeira.

Ilustração: Amari Dias

A rapariga, que sabia qual era a intenção do seu pai, queria ajudar o seu amado. Disse-lhe para ir ao estábulo e que escolhesse o cavalo mais veloz para conseguir fugir logo de manhã cedo. A rapariga cuspiu sete vezes para o chão para que quando a sua mãe a chamasse pela manhã pensasse que era mesmo ela que respondia. De manhã cedo, quando a mãe a chamou, foram os cuspes a emitir a voz da Branca-Flor. A mãe desconfiou no entanto, e foi ver onde estava o rapaz.

Como não encontrou nenhum deles, disse ao marido que a sua filha tinha fugido com o rapaz, ordenando-lhe que fosse atrás deles.

Mustafá assim fez. Pelo caminho passou por uma escola onde as crianças estavam no recreio. Havia ali muitos professores e como o seu poder era fraco em relação à filha não conseguiu perceber que afinal esta se tinha transformado numa professora e o rapaz num professor.

Voltou para trás e disse à mulher que não os tinha encontrado. Esta ficou furiosa porque sabia que eles que se estavam a fazer passar por professores. Mandou-o de novo para ver se conseguia encontrá-los mas este não teve sorte porque desta vez encontrou uma capela com uma freira e um padre. Sem desconfiar que poderiam seriam eles, o feiticeiro voltou para casa e descreveu à mulher o que tinha encontrado. Finalmente, a mulher decidiu ser ela a ir atrás deles. Depois de muito procurar, encontrou-os mas estes saltaram para o outro lado do rio para não serem apanhados. De um lado a mãe gritava:

    Ilustração: Isinildo Monteiro

    - Branca-Flor devolve-me a chave do armazém e fica a saber que te vais separar do rapaz com quem nos traíste durante seis meses.

    A menina do outro lado respondia:

    - Mãe, tu também te vais separar do meu pai durante seis meses.

Quando Branca atirou a chave acertou num olho da mãe. Quando regressou para casa Mustafá separou-se dela porque tinha um olho furado. No entanto também a Branca-Flor acabou por separar-se do seu amado.

Friday, December 07, 2007

Imigrantes e Comunicação Social : uma relação de desconfiança


Decorreu entre os dias 21 a 24 de Novembro, uma formação organizada pelo Gabinete de Apoio às Associações de Imigrantes ( GATAI ) sobre como os imigrantes devem lidar com os orgãos de comunicação social. A formação “Imigração e Diálogo com a Imprensa” teve lugar nas instalações do ACIDI no horário pós-laboral.
Destinada às associações de imigrantes e a outros técnicos, está formação pretendeu sobretudo dar a conhecer aos participantes as principais características dos meios de Comunicação Social em Portugal e formas de actuação. Serviu também para que os participantes saibam falar e lidar com os média quando abordados, sem que saiam prejudicados ou mal intendidos.Isto porque muitas vezes, quando um imigrante é entrevistado ou sempre que é notícia é quase sempre tratado pela forma que mais convém ao jornalista e ao orgão que ele representa.
Em Portugal particularmente, os imigrantes são tratados muitas vezes sem direito a resposta e como pobres e coitadinhos. Alguns jornalistas tratam a informação da forma que lhe permita ganhar mais audiência e dinheiro.
Também existem momentos em que um imigrante se torna notícia, capa e manchete dos jornais e revistas: È quando são descendentes de imigrantes ou naturalizados, que de algum modo foram importantes para o país. São situações em que tiveram sucesso e levaram o nome de Portugal para fora. Mas estes momentos acontecem excepcionalmente no mundo desportivo e aí nem são referidos como cidadão imigrante, mas sim um português ou um herói nacional.
Esta relação pouco clara e nem sempre objectiva resulta do trabalho do jornalista feito na sua redacção, sem estar no terreno para contactar com as pessoas. Por sua vez os imigrantes optam por uma atitude defensiva e isto acaba por gerar situações pouco agradáveis para ambos.
Deste modo,acabam por passar uma imagem negativa face a situação dos imigrantes. Resta a sociedade aceitar aquilo que a comunicação social lhe apresenta como sendo as informações verdadeiras, visto que é líder na formação de opiniões sobre temas e situações.
Isso leva a que se faça uma generalização dos casos sem que se tome cada notícia em particular ou o entrevistado como um indivíduo.

Contudo o país continua inclusivé, a ter uma mão - de - obra activa fortemente dominada por imigrantes que trabalham muito, com horários desgastantes, contribuindo para a economia e desenvolvimento do país. E o que acontece muitas vezes é que esses imigrantes acabam por ser julgados na praça pública sem direito de resposta e aí já não se lembram daqueles que fizeram e fazem coisa positivas para a evolução do país.
Relativamente ao conteúdo das matérias dadas ao longo desses dias, é de referir a importância do Princípio Fundamental da Teoria Geral da comunicação que foi abordada como sendo o início para qualquer comunicação.
Aquilo que ficou claro para os participantes, foi que para comunicar temos que ter factos e ou acontecimentos e só então poderão conseguir trazer os media até eles. No caso dos imigrantes em Portugal aquilo que acontece é que muitos dos factos costumam estar associados à coisas maus, que apenas contribuem para denegridir a imagem desses imigrantes, que depois nem conseguem ter oportunidade para dar uma resposta face à notícia.
È a partir dos factos que o jornalista vai produzir a notícia, esta depois se torna numa imagem que por sua vez produz no público uma opinião multiplicada.
Sabendo que a opinião do público tende a multiplicar-se rapidamente deviso ao modo como o jornalista avalia os factos, foi sugerida aos participantes que quando abordados por orgãos sociais tenham muito cuidado e informar pela positiva, de forma que lhes seja favorável e ainda ter atenção à linguagem usada. Para isto tudo requer-se muita técnica e cuidado para que não sejam mal intendidos.

Texto: Surraia Correia
Fotos: Luís Costa

Panos guineenses e caboverdianos expostos no Museu da Etnologia


Está exposta até o final de Dezembro no Museu Nacional da Etnologia a exposição através dos Panos. Trata-se de uma colecção da Panaria guineense e caboverdiana recolhida por António Carreira e Rogado Quintino nas decádas de 60 e 70.
Esta exposição revela os diversos padrões que os panos podem assumir para dar um pouco de estética. Geralmente costumam ser figuras geométricas como os triângulos, losangos e quadrados entre outras designações derivando do seu contexto de origem. Assim sendo,para os caboverdianos existe o pano di terra que é de origem, pano di obra que revela um padrão complexo e minucioso e ainda o pano bicho relativos aos animais. As coisas também se diferem um pouco no caso dos guineenses. Existe o pano dエobra, bicho e pente. Esse último é feito em tear tradicional.
Para que a cultura dos panos não caia no esquecimento, têm surgido sucessivas medidas por parte dos governos na tentativa de recuperar a tecelagem tradicional. Pretendem ainda dar um novo olhar sobre os panos e daí a criaçao de um atelier ao lado da exposição onde se possa trabalhar um pouco as junções das cores e das figuras.
Ao longo das peças expostas é possível constactar que os panos eram tingidos com pigmentos vegetais como o índigo e o anil que podem dar origem ao azul.
Com o passar dos tempos a tradição começa a perder-se. Actualmente podemos encontrar panos de algodão de produção industrial ou fio sintético importados de outros países e são mais acessíveis em termos de custos e fáceis de trabalhar.
Muitos desses panos de confecção industrial são adquiridas na Guiné Conakry, Senegal, Gâmbia, Indónesia,Holanda e Portugal o que demonstra que a tradição já não é o que era. Ou seja, os panos já não são feitos em teares tradicionais.
Juntamente com a exposição está o trabalho da artista plástica Manuela Jardim que utiliza materiais reciclados fazendo uma grande mistura de cores e figuras.

Texto: Surraia Correia
Foto: Cedida pelo Museu Nacional da Etnologia

Thursday, December 06, 2007

As Pinturas Cantadas das Mulheres de Naya

Ainda também em exposição pode-se ver as "Pinturas Cantadas" pelas pintoras de Naya, Índia.
Na Índia a tradição é antiga, entre homens e mulheres da comunidade Patua que já cantavam histórias em longas tiras de papel.
Hoje em dia, muitas mulheres de Naya levam esta profissão à sério e encaram-na como modo de subsistência.
Muitos dos temas são devocionais e sociais. Mas durante toda a exposição verifica-se que são vastos os temas como o 11 de Setembro, em que se retrata os ataques de Bin Laden às Torres de Nova Iorque, assim como o desespero das pessoas, a discriminação das mulheres e a doença do século que é a Sida.
Também o Tsunami de 2004 mereceu destaque nestas pinturas feitas através de folhas de papel justapostas coladas em tecidos.
As narrações dos acontecimentos que marcaram o mundo e que de algum modo são também informativas para a comunidade, como o caso da luta contra a Sida dominam actualmente as pinturas das mulheres que assim vão ganhando a vida.
As tintas utilizadas para os trabalhos são feitas através de pigmentos naturais, o que requer todo o cuidado no acto das pinturas
Esta forma de expressão e prática cultural tem tido uma boa aceitação no mercado e o negócio parece estar a crescer bem.As mulheres de Naya contam ainda com o apoio do governo que já permitiu criar uma sociedade com 16 mulheres.

Texto:Surraia Correia
Foto: Cedida pelo Museu Nacional da Etnologia

1º Seminário das Associações Baboque em Portugal

Decorreu nos dias 24 e 25 de Novembro, nas instalações da Escola Secundária de Odivelas, o 1º seminário das Associações Baboque sob o tema “Planear o Futuro” e em que foi discutida concretamente a intervenção das Associações Baboque no domínio da Educação na Guiné-Bissau. O encontro teve uma participação de 43 seminaristas de entre os quais apenas três eram do sexo feminino.

O seminário teve início com a apresentação da Associação Baboque que resultou, resumidamente, de uma rede das associações que, ao longo do tempo, foram criadas nas aldeias da comunidade Manjaca, e foi alargando e promovido pelos imigrantes espalhados em vários países da Europa.

A Associação Baboque teve um projecto financeado pelo CIDAC, para construção das escolas nas aldeias do Sector de Canchungo que se concluiu com uma totalidade de 24 escolas construídas.

O CIDAC e a Baboque fiveram uma missão conjunta de avaliação e identificação dos projectos, concluída positivamente embora das 24 escolas construídas três delas estejam encerradas por falta de professores, sendo que o Ministério da Educação salienta não dispor dos meios financeiros para garantir o funcionamento de todas as escolas construídas em geral e em particular do Sector em epígrafo, dando assim uma prioridade às das aldeias mais distantes do centro (Canchungo neste caso). Relativamente ao segundo ponto da missão, foram identificados muitos projectos relativamente aos quais ficou para fase seguinte a manutenção e construção das latrinas nas escolas primárias e construir ou recuperar as escolas encerradas para fazer funcionar os cursos profissionais, sendo este último ponto considerado o mais importante na formação e capacitação dos jovens que, após a conclusão do secundário, ficam sem qualquer tipo de formação/ocupação.

Após os trabalhos o Presidente da Baboque em Portugal agradeceu a todos os participantes a sua presença e de seguida encaminhou-os para um apreciado almoço com pratos típicos da Guiné. O semanário encerrou após a grande actuação do grupo cultural representante da associação Baboque.

Texto de Domingas Enquebam

Tuesday, December 04, 2007

Aulas de alfabetização de adultos decorrem no Salão Polom


Foi com o espírito de voluntariado que cinco amigas, do padre Valentim Gonçalves, quiseram ajudar os adultos a aprender a ler e a escrever. Desde o ano passado que as aulas decorriam na Paróquia de S. Pedro, no Prior-Velho mas, agora é na sala do apoio escolar do projecto À Bolina que se realizam as sessões com adultos do bairro da Quinta da Serra.

Em conversa com uma das professoras, Nair Azevedo, formada em psicologia, constatamos que essas alunas, com mais de cinquenta anos, ainda têm muita vontade em aprender a escrever e sobretudo ler.

São as mesmas senhoras do ano passado e os números têm vindo a crescer e já contam com as presenças de dois jovens que estão a frequentar o ensino recorrente. Além dos novos alunos que vieram devido à importância das aulas serem mesmo dentro do bairro.

Quando questionada sobre que tipos de métodos utilizam para poder ensinar os alunos, Nair Azevedo, confessa que não existe nenhum específico: “ trabalhamos em torno das palavras propostas por elas mesmas”. È sobre essas palavras que as outras voluntárias como Ana Isabel, Inês D´Orey, Olga e Cecília depois trabalham com as senhoras dando uma continuidade no sistema criado por elas. No fundo acabam por trabalhar os sons e montam outras palavras através das mesmas letras.

Nestas últimas semanas têm trabalhado sobre a palavra saudade, afirma a Nair, com um olhar de quem percebe exactamente o que elas sentem quando pronunciam essa palavra.

Neste segundo ano de ensino aos adultos que funciona duas vezes por semana, na Quinta da Serra, as professoras consideram que existem níveis diferentes entre as alunas e algumas estão mais avançadas que as outras. Mas o que não deixam de realçar é o interesse e o empenho que as senhoras manifestam e revelam sempre que chegam até ao final da aulas. Apesar do progresso lento demonstram muitas vontade em continuar a aprender mais e mais.

Texto de Surraia Correia
Fotos cedidas pela alfabetização


Friday, November 30, 2007

Novo Blogue: Bitchu di conto

Ou Bichos de Conto. É o nome do nosso novo blogue, o qual compila todas as histórias populares recolhidas por nós na Quinta da Serra e depois lidas e ilustradas pelos meninos e jovens do À Bolina. O nome é uma brincadeira com o facto de quase todas as nossas histórias serem protagonizadas por bichos...
O link está na coluna da direita. Mas podem ligar-se a ele já aqui. http://bichosdeconto.blogpot.com. Esperemos que gostem como nós gostamos.

Thursday, November 29, 2007

Kotalume no Festival Lisboa Mistura 2007


O Teatro São Luiz vai acolher nos dias 29 e 30 de Novembro, o festival Lisboa Mistura 2007, uma ideia da Sons da Lusofonia. Este festival surge da necessidade de criar-se em Lisboa um espaço de intervenção intercultural em que a criatividade humana é assumida como um poderoso instrumento de comunicação, união e sobretudo clarificação das diferenças. Será um encontro multi-disciplinar e intercultural de pessoas, artes e culturas. Nada mais justo, portanto, que a colaboração do Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural e da Gulbenkian, mais concretamente através da iniciativa o Estado do Mundo que descobriu e lançou novos talentos na área da música. Foi no âmbito desta parceria que surgiu a gravação do CD "9 Bairros Novos Sons" onde participou Kotalume, um músico caboverdiano do bairro da Quinta da Serra.
"Kotalume", que é o nome artístico de Adilson Moreno, foi descoberto pelo projecto À Bolina e desde a sua participação em "O Estado do Mundo" não tem parado. Além dele, neste festival actuarão os N´Gapas, do Monte Abraão, que também gravaram um tema "9 Bairros, Novos Sons", os Cool Hipnoise, o grupo de música e dança africana Batoto Yetu, Lil´John e a Orquestra d'o Estado do Mundo entre muitos outros convidados.
Para o primeiro dia está previsto um debate, “Um novo olhar sobre Lisboa”, às 18horas no Jardim do Inverno, seguindo-se teatro, música, vídeo e literatura às 22horas na sala principal. Lisboa Mistura terá exibição na SIC-Notícias e pode-se contar com um cruzamento intercultural de pessoas tal como acontece a toda a hora na cidade de Lisboa.

Texto: Surraia Correia
Fotos: José da Costa Ramos

A magia de "Aniki Bóbó"

Voltámos ontem à Cinemateca Júnior onde fomos recebidos pela Neva e pela Mariana. Éramos muitos mais do que na sessão inaugural: além das gémeas Ana Francisca e Ana Sofia, da Alina e da Vilma, desta vez também veio a Iolanda. O grupo dos rapazes é que teve reforços importantes: além do Rúben, do Alessandro e do Eduino, também o Amari, o Isinildo e o Fábio se juntaram a nós, pela primeira vez.Depois de uma espreitadela ao Zootrópio da entrada - através do qual se gera a ilusão do vôo de um pássaro ao espreitar por um buraco enquanto um tambor com vários pássaros dentro vai girando - a Neva explicou-nos como eram os espectáculos de Lanterna Mágica .

Também explicou o que eram lanternistas e mostrou várias lanternas mágicas que eram usadas por crianças como brinquedos. Muitas destas peças foram compradas em leilões. Como a Lanterna Mágica em exposição no Foyer, que alguém da Cinemateca foi comprar propositadamente a um leilão da Christie's, na Grã-Bretanha.

Ainda vimos uma exposição de vidros pintados que eram usados para projectar pelas lanternas mágicas.
A Antónia chegou entretanto e explicou-nos que virá no princípio de todas as sessões de cinema para saber opiniões sobre o filme da sessão anterior. Como tal quis saber as opiniões sobre o filme "Charlot Boémio", que agradou a todos, e também o que tinham os jovens do À Bolina achado dos filmes mudos, acompanhados ao piano. As preferências dividiram-se, com as raparigas a dizer que o favorito tinha sido o da Cinderela enquanto que os rapazes gostaram mais de "Voyage a La Lune".

Também ficámos a saber que, porque os filmes também envelhecem, afinal não poderemos ver "O Barba Negra" na próxima semana. A cópia existente na Cinemateca está muito velhinha, cheia de riscos... Prometeu, no entanto, escolher outro bom filme de piratas na nossa "apresentação oficial" a este género.
Quando as luzes da sala se apagaram, a risota e a agitação instalaram-se. As imagens de "Aniki Bóbó", um dos primeiros de Manoel de Oliveira, o cineasta mais antigo do mundo em actividade - fará 99 anos no dia 7 de Dezembro - invadiram a sala e agarraram-nos a todos, com a sua magia e a frescura. Ouviram-se muitos risos, com as sequências mais divertidas do filme, e protestos, de alguma tensão, com o acidente do Eduardinho e a acusação, injusta, ao Carlinhos. No final ficou a nossa convicção da intemporalidade desta obra sobre os meninos da Ribeira, realizada em 1942.

Texto de Maria do Carmo Piçarra

Fotos de Maria do Carmo Piçarra, Vilma Sanhá e Isinildo Monteiro

Wednesday, November 28, 2007

Ti Lobo e Chibinho (versão completa)


- Era uma vez... Era uma vez, um lobo muito esfomeado, tão esfomeado que a sua barriga estava colada às costas... O lobo trazia o lombo escorregadio do suor da fraqueza e vinha coberto de moscas dos cavalos. Certo dia, encontrou-se com o seu compadre Chibinho, anafado, gordinho e lustroso e perguntou-lhe:
- Então, Chibinho, onde andas tu a comer? Estás assim tão gordinho e lustroso e eu, assim tão magrinho, amarelado e cadavérico, só com a pele e ossos, como vês?
Os compadres não se viam dias-há, desde o último encontro numa festa de casamento, lá para os lados do Fundo da Manca, no meio dos manégatinhos e péga-saias.
- Sabes, Lobo, ando bem escondido num buraco fresquinho da rocha e só de lá saio para comer os figos maduros da minha figueira e beber a água da fonte!
- Como? Tens uma figueira e uma fonte?
- Sim, e estão bem escondidas! É um segredo que não vou revelar a ninguém, pois, como o compadre bem sabe, a comida está muito escassa.
- Mas não revelas o segredo ao teu bom compadre Lobo, que, como vês, está só com a pele e ossos, quase a deixar este vale de lágrimas!
- Não, não posso...
- Nem ao teu bom amigo e compadre?
- Já que insistes tanto, e sem um pouco de comida vais pela certa morrer, revelo o local onde está a figueira brava, carregadinha de figos maduros. É no Fundo da Manca, ao lado da nascente onde os pardais e as galinhas de mato das redondezas vão matar a sede, quando o calor os sufoca no desfiladeiro.
As raízes da velha figueira estão metidas nos húmidos buracos das rochas e assim vão resistindo a esta seca que vem matando a nossa terra. O Lobo ouvira o relato da tal figueira, que ostentava folhas ainda verdes e cachos de figos maduros a escorrerem o mel para o chão - segredo que o seu compadre Chibinho guardara bem guardado, um ror de anos.
- Sabes, Lobo, até os pardais da Ribeira Seca vão lá comer os figos mais maduros!
- Tem graça! - falou o Lobo faminto, com a saliva a escorrer-lhe pelo focinho sujo da terra amarelada dos campos - tenho passado várias vezes pelo Fundo da Manca, à procura de alguma coisa para comer, mas só vejo tamarindeiros com as copas cheias de tamarindos amargos como fel!
- Sim, como já te disse, a figueira está bem escondidinha, num buraco da rocha. Só eu sei o atalho que lá vai dar...
Após um longo diálogo, os dois compadres e amigos resolveram marcar um dia para irem ver a figueira e comer o que restasse dos figos maduros, " tirar a barriga da miséria".
Foi marcado um domingo, o que vinha a seguir. O lobo esperou que a semana passasse... Chegada a data, ainda o Sol mal tinha nascido no Morro do Lombinho, o Lobo foi acordar o compadre e deram início à caminhada até ao Fundo da Manca, local onde devia ficar a tal figueira.
Comeram à pressa umas fatias de cuscuz que sobraram da véspera (o Chibinho ainda tinha alguma comida em casa) e puseram-se a caminho para a penosa viagem, subindo montes, atravessando vales e secas planícies, por entre os espinheiros bravos que rasgavam a fina e amarelada pele do faminto Lobo. O dia já ia a meio. O Lobo estava arrependido de se ter metido em tamanha aventura."Para quê? Para lá chegar e nada encontrar" - dizia, amargurado!
- Sabe, compadre, vou parar aqui mesmo, neste local, nesta boa sombrinha do tamarindeiro. Quero morrer descansado, mesmo sem comer os figos maduros. Não tenho mais forças para andar. O meu coração está aos pulos, a querer saltar pela boca. Quero morrer aqui, quietinho, mesmo no meio destas moscas dos cavalos.
O Chibinho olhou para o seu compadre, um desbaratado pela vida e explodiu:
- Seu preguiçoso de um raio, seu faminto, calaceiro e mais adjectivos qualificativos... Agora que já vejo a figueira, lá em baixo, carregadinha de frutos maduros é que vais desistir da viagem e da vida! Não e não, não deixo... Vamos saír dessa sombra e caminhar. Não vês que as cabras podem deixar caír algum pedregulho lá de riba da rocha para cima da tua cabeça?
O Lobo, fraco, triste, faminto e envergonhado, reuniu as suas derradeiras forças, sacudiu do lombo os manégatinhos, as péga-saias e as lapadeiras e pôs-se a caminho, atrás do seu compadre. Até dava dó vê-lo, de olhos vermelhos do pó da caminhada.
Abriu os olhos e viu uma árvore muito verde, carregadinha de frutos maduros. Os ramos vinham até ao chão. Bandos de pardais banqueteavam-se com os frutos mais maduros que pingavam para o chão um mel viscoso... O lobo correu para a figueira e começou a devorar todos os frutos que estavam caídos no chão!
- Tenha cuidado, Lobo! Olha que a tua barriga está muito vazia!
O pobre animal devorara, sofregamente, todos os figos do chão e lançou-se aos que pendiam dos ramos mais altos, aonde andavam os pardais dos coqueiros.
- E agora! Como vamos colher os figos dos ramos mais altos, sem uma cana de carriço ou vara de chaluteira para lá chegar?
O Chibinho afinara a garganta e um som ecoou pelo Fundo da Manca:
- Figuerinha tique-tique...tique-tique...
- O que estás a fazer Chibinho?
- É o grito para os ramos da figueira ficarem ao nosso alcance!
Na verdade, o alto tronco da árvore foi-se encolhendo e os ramos ao nível do chão. O Lobo acabou de comer o último figo e, dizendo "figueirinha tique-tique" foi alcançando mais ramos e mais figos maduros...
- Toma atenção, Lobo! Quando tiveres a barriga cheia é só dizeres "figueirinha nai-naine". A árvore volta crescer, ficando os figos resguardados dos outros animais do campo. Enquanto o Chibinho ia dando as explicações, o comilão do Lobo enchia a sua pança de figos, até mais não poder, não dando atenção às explicações do seu interlocutor, que se pusera a caminho, pois a noite já rondava o desfiladeiro da Manca.
O Lobo abanara a cabeça para sacudir as moscas e o compadre deu por entendida a mensagem. De barriga cheia, dormiu à sombra da figueira até ao raiar de um novo dia, já com as gotas de orvalho pingando das folhagens sobre as suas orelhas cobertas de pó. O Sol reflectia-se nos barrancos de terra branca do vale e os pardais rondavam a fonte. Já com fome, resolvera trepar à árvore...
- Figueirinha nai-naine!... Figueirinha nai-naine!..
E a figueira a subir, em vez de descer...
- Mas é para descer, figueirinha!
A figueira continuou a subir, a subir cada vez mais... Subiu, subiu, atravessou as nuvens, os altos picos, que nem mil canas chegariam até lá, e o Lobo foi dar de caras com S.Pedro, no Céu, no seu trono dourado.
O Lobo ao enxergar as longas barbas brancas do apóstolo, exclamara, surpreendido:
- Nhá mãe! Estou no Céu! Estou perdido!
S. Pedro coçou as longas brabas brancas, deu algumas ordens aos seus súbditos e, olhando as nuvens que passavam; ouvira a explicação dada pelo Lobo...
- Olha lá, meu trapalhão, vou mandar-te de volta à tua terra!
- Mas como, S.Pedro? - perguntou-lhe o recém-chegado, muito envergonhado.
- Não te vou empurrar lá para baixo, não! Vou mandar arranjar uma corda muito comprida, um farnel de cuscuz para a tua caminhada, que vai ser longa, e um tambor de pele de cabrito, para me dares um sinal logo que pises a terra firme do Campo da Preguiça, está bem?
- Sim, sim...
O Lobo parecia ter entendido a explicação de S. Pedro que trazia nas mãos a pesada chave do Paraíso.
Deu-se início à descida... O tempo estava bom. As nuvens, léguas abaixo, eram apenas farrapos no ar, como as penugens das bombardeiras, em dia de vento. S. Pedro, lá em cima, ia folgando a corda à medida que o Lobo ia descendo, pendurado numa bolsa. Desceu dias e noites e, já a ver lá em baixo a ilha de S. Nicolau, foi abordado por um bando de ruídosos e negros corvos voando em círculo. Um deles veio fazer-lhe companhia, trazendo no bico um calamã cheio de manteiga de terra e falou para ele:
- Caro amigo Lobo, eu sei que trazes cuscuz no teu bornal e, com um bocadinho de manteiga fresca que tenho, ia bem uma fatiazinha, não é verdade?
O corvo voara mais de perto, com o calamã no bico, para que o Lobo visse o seu conteúdo.
- Dou-te a manteiga e tu dás-me uma fatia do teu cuscuz. Depois tocas o tambor para eu ouvir o seu som, está bem!
- Não posso tocar o tambor, porque é o sinal para S. Pedro largar a corda...
- S.Pedro está destraído e não vai ouvir-te, pela certa...
O Lobo comeu o cuscuz com manteiga de terra, na companhia do corvo, sob o olhar curioso dos restantes e desatou a tocar tambor.
Lá em cima, S. Pedro, ouvindo o sinal combinado, mandara soltar a corda.
Os corvos afastaram-se, deixando o Lobo na sua vertiginosa queda para o Campo da Preguiça, que se via lá em baixo, amarelado e pedregoso. Ainda faltavam muitas léguas para a terra firme e o Monte da Centinha ainda não se via. O Lobo, ao sentir-se desamparado e gozado pelo corvos, em debandada para o Monte Fora, lembrou-se de uma frase do seu compadre, nos momentos de apuro:
- Pedrinhas lajes (pedras sem arestas) fiquem de fio (de arestas para cima)...
Todas as pedras do Campo da Preguiça ficaram viradas para cima, à espera do Lobo, que se estatelou no chão, no meio de grande poeirada, não muito longe do local onde os pardais debicavam os figos maduros da figueira do seu compadre.
O que o trapalhão do Lobo queria dizer era:
- Pedrinhas de fio (com arestas cortantes) fiquem deitadas...

Moral da história: A gula é sempre castigada....
In http://www.islasdecaboverde.com.ar/san_nicolau/adriano_gominho_narrativas/6_rochinha_a_primeira_escola.htmu primeiro dia da Escola da Rochinha

Tuesday, November 27, 2007

Ilustração de contos populares

O Fábio Silva, o Ivandro Moniz, a Luisa Pandim e o Pedro Dias foram os ilustradores" de serviço" da oitava história sobre "A Esperteza da Lebre".
Depois de termos conversado sobre o que é ser esperto e de termos visto na internet qual a diferença entre um coelho e uma lebre - e também como se desenha uma lebre e uma galinha - foi o Pedro Dias quem, de uma assentada leu esta história popular guineense.Seguiu-se a ilustração da história que correu um bocado pior quando a máquina fotográfica apareceu.
Estes meninos adoram aparecer nas fotografias e também gostam de disputar uns aos outros os lápis de cor...