Friday, November 30, 2007

Novo Blogue: Bitchu di conto

Ou Bichos de Conto. É o nome do nosso novo blogue, o qual compila todas as histórias populares recolhidas por nós na Quinta da Serra e depois lidas e ilustradas pelos meninos e jovens do À Bolina. O nome é uma brincadeira com o facto de quase todas as nossas histórias serem protagonizadas por bichos...
O link está na coluna da direita. Mas podem ligar-se a ele já aqui. http://bichosdeconto.blogpot.com. Esperemos que gostem como nós gostamos.

Thursday, November 29, 2007

Kotalume no Festival Lisboa Mistura 2007


O Teatro São Luiz vai acolher nos dias 29 e 30 de Novembro, o festival Lisboa Mistura 2007, uma ideia da Sons da Lusofonia. Este festival surge da necessidade de criar-se em Lisboa um espaço de intervenção intercultural em que a criatividade humana é assumida como um poderoso instrumento de comunicação, união e sobretudo clarificação das diferenças. Será um encontro multi-disciplinar e intercultural de pessoas, artes e culturas. Nada mais justo, portanto, que a colaboração do Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural e da Gulbenkian, mais concretamente através da iniciativa o Estado do Mundo que descobriu e lançou novos talentos na área da música. Foi no âmbito desta parceria que surgiu a gravação do CD "9 Bairros Novos Sons" onde participou Kotalume, um músico caboverdiano do bairro da Quinta da Serra.
"Kotalume", que é o nome artístico de Adilson Moreno, foi descoberto pelo projecto À Bolina e desde a sua participação em "O Estado do Mundo" não tem parado. Além dele, neste festival actuarão os N´Gapas, do Monte Abraão, que também gravaram um tema "9 Bairros, Novos Sons", os Cool Hipnoise, o grupo de música e dança africana Batoto Yetu, Lil´John e a Orquestra d'o Estado do Mundo entre muitos outros convidados.
Para o primeiro dia está previsto um debate, “Um novo olhar sobre Lisboa”, às 18horas no Jardim do Inverno, seguindo-se teatro, música, vídeo e literatura às 22horas na sala principal. Lisboa Mistura terá exibição na SIC-Notícias e pode-se contar com um cruzamento intercultural de pessoas tal como acontece a toda a hora na cidade de Lisboa.

Texto: Surraia Correia
Fotos: José da Costa Ramos

A magia de "Aniki Bóbó"

Voltámos ontem à Cinemateca Júnior onde fomos recebidos pela Neva e pela Mariana. Éramos muitos mais do que na sessão inaugural: além das gémeas Ana Francisca e Ana Sofia, da Alina e da Vilma, desta vez também veio a Iolanda. O grupo dos rapazes é que teve reforços importantes: além do Rúben, do Alessandro e do Eduino, também o Amari, o Isinildo e o Fábio se juntaram a nós, pela primeira vez.Depois de uma espreitadela ao Zootrópio da entrada - através do qual se gera a ilusão do vôo de um pássaro ao espreitar por um buraco enquanto um tambor com vários pássaros dentro vai girando - a Neva explicou-nos como eram os espectáculos de Lanterna Mágica .

Também explicou o que eram lanternistas e mostrou várias lanternas mágicas que eram usadas por crianças como brinquedos. Muitas destas peças foram compradas em leilões. Como a Lanterna Mágica em exposição no Foyer, que alguém da Cinemateca foi comprar propositadamente a um leilão da Christie's, na Grã-Bretanha.

Ainda vimos uma exposição de vidros pintados que eram usados para projectar pelas lanternas mágicas.
A Antónia chegou entretanto e explicou-nos que virá no princípio de todas as sessões de cinema para saber opiniões sobre o filme da sessão anterior. Como tal quis saber as opiniões sobre o filme "Charlot Boémio", que agradou a todos, e também o que tinham os jovens do À Bolina achado dos filmes mudos, acompanhados ao piano. As preferências dividiram-se, com as raparigas a dizer que o favorito tinha sido o da Cinderela enquanto que os rapazes gostaram mais de "Voyage a La Lune".

Também ficámos a saber que, porque os filmes também envelhecem, afinal não poderemos ver "O Barba Negra" na próxima semana. A cópia existente na Cinemateca está muito velhinha, cheia de riscos... Prometeu, no entanto, escolher outro bom filme de piratas na nossa "apresentação oficial" a este género.
Quando as luzes da sala se apagaram, a risota e a agitação instalaram-se. As imagens de "Aniki Bóbó", um dos primeiros de Manoel de Oliveira, o cineasta mais antigo do mundo em actividade - fará 99 anos no dia 7 de Dezembro - invadiram a sala e agarraram-nos a todos, com a sua magia e a frescura. Ouviram-se muitos risos, com as sequências mais divertidas do filme, e protestos, de alguma tensão, com o acidente do Eduardinho e a acusação, injusta, ao Carlinhos. No final ficou a nossa convicção da intemporalidade desta obra sobre os meninos da Ribeira, realizada em 1942.

Texto de Maria do Carmo Piçarra

Fotos de Maria do Carmo Piçarra, Vilma Sanhá e Isinildo Monteiro

Wednesday, November 28, 2007

Ti Lobo e Chibinho (versão completa)


- Era uma vez... Era uma vez, um lobo muito esfomeado, tão esfomeado que a sua barriga estava colada às costas... O lobo trazia o lombo escorregadio do suor da fraqueza e vinha coberto de moscas dos cavalos. Certo dia, encontrou-se com o seu compadre Chibinho, anafado, gordinho e lustroso e perguntou-lhe:
- Então, Chibinho, onde andas tu a comer? Estás assim tão gordinho e lustroso e eu, assim tão magrinho, amarelado e cadavérico, só com a pele e ossos, como vês?
Os compadres não se viam dias-há, desde o último encontro numa festa de casamento, lá para os lados do Fundo da Manca, no meio dos manégatinhos e péga-saias.
- Sabes, Lobo, ando bem escondido num buraco fresquinho da rocha e só de lá saio para comer os figos maduros da minha figueira e beber a água da fonte!
- Como? Tens uma figueira e uma fonte?
- Sim, e estão bem escondidas! É um segredo que não vou revelar a ninguém, pois, como o compadre bem sabe, a comida está muito escassa.
- Mas não revelas o segredo ao teu bom compadre Lobo, que, como vês, está só com a pele e ossos, quase a deixar este vale de lágrimas!
- Não, não posso...
- Nem ao teu bom amigo e compadre?
- Já que insistes tanto, e sem um pouco de comida vais pela certa morrer, revelo o local onde está a figueira brava, carregadinha de figos maduros. É no Fundo da Manca, ao lado da nascente onde os pardais e as galinhas de mato das redondezas vão matar a sede, quando o calor os sufoca no desfiladeiro.
As raízes da velha figueira estão metidas nos húmidos buracos das rochas e assim vão resistindo a esta seca que vem matando a nossa terra. O Lobo ouvira o relato da tal figueira, que ostentava folhas ainda verdes e cachos de figos maduros a escorrerem o mel para o chão - segredo que o seu compadre Chibinho guardara bem guardado, um ror de anos.
- Sabes, Lobo, até os pardais da Ribeira Seca vão lá comer os figos mais maduros!
- Tem graça! - falou o Lobo faminto, com a saliva a escorrer-lhe pelo focinho sujo da terra amarelada dos campos - tenho passado várias vezes pelo Fundo da Manca, à procura de alguma coisa para comer, mas só vejo tamarindeiros com as copas cheias de tamarindos amargos como fel!
- Sim, como já te disse, a figueira está bem escondidinha, num buraco da rocha. Só eu sei o atalho que lá vai dar...
Após um longo diálogo, os dois compadres e amigos resolveram marcar um dia para irem ver a figueira e comer o que restasse dos figos maduros, " tirar a barriga da miséria".
Foi marcado um domingo, o que vinha a seguir. O lobo esperou que a semana passasse... Chegada a data, ainda o Sol mal tinha nascido no Morro do Lombinho, o Lobo foi acordar o compadre e deram início à caminhada até ao Fundo da Manca, local onde devia ficar a tal figueira.
Comeram à pressa umas fatias de cuscuz que sobraram da véspera (o Chibinho ainda tinha alguma comida em casa) e puseram-se a caminho para a penosa viagem, subindo montes, atravessando vales e secas planícies, por entre os espinheiros bravos que rasgavam a fina e amarelada pele do faminto Lobo. O dia já ia a meio. O Lobo estava arrependido de se ter metido em tamanha aventura."Para quê? Para lá chegar e nada encontrar" - dizia, amargurado!
- Sabe, compadre, vou parar aqui mesmo, neste local, nesta boa sombrinha do tamarindeiro. Quero morrer descansado, mesmo sem comer os figos maduros. Não tenho mais forças para andar. O meu coração está aos pulos, a querer saltar pela boca. Quero morrer aqui, quietinho, mesmo no meio destas moscas dos cavalos.
O Chibinho olhou para o seu compadre, um desbaratado pela vida e explodiu:
- Seu preguiçoso de um raio, seu faminto, calaceiro e mais adjectivos qualificativos... Agora que já vejo a figueira, lá em baixo, carregadinha de frutos maduros é que vais desistir da viagem e da vida! Não e não, não deixo... Vamos saír dessa sombra e caminhar. Não vês que as cabras podem deixar caír algum pedregulho lá de riba da rocha para cima da tua cabeça?
O Lobo, fraco, triste, faminto e envergonhado, reuniu as suas derradeiras forças, sacudiu do lombo os manégatinhos, as péga-saias e as lapadeiras e pôs-se a caminho, atrás do seu compadre. Até dava dó vê-lo, de olhos vermelhos do pó da caminhada.
Abriu os olhos e viu uma árvore muito verde, carregadinha de frutos maduros. Os ramos vinham até ao chão. Bandos de pardais banqueteavam-se com os frutos mais maduros que pingavam para o chão um mel viscoso... O lobo correu para a figueira e começou a devorar todos os frutos que estavam caídos no chão!
- Tenha cuidado, Lobo! Olha que a tua barriga está muito vazia!
O pobre animal devorara, sofregamente, todos os figos do chão e lançou-se aos que pendiam dos ramos mais altos, aonde andavam os pardais dos coqueiros.
- E agora! Como vamos colher os figos dos ramos mais altos, sem uma cana de carriço ou vara de chaluteira para lá chegar?
O Chibinho afinara a garganta e um som ecoou pelo Fundo da Manca:
- Figuerinha tique-tique...tique-tique...
- O que estás a fazer Chibinho?
- É o grito para os ramos da figueira ficarem ao nosso alcance!
Na verdade, o alto tronco da árvore foi-se encolhendo e os ramos ao nível do chão. O Lobo acabou de comer o último figo e, dizendo "figueirinha tique-tique" foi alcançando mais ramos e mais figos maduros...
- Toma atenção, Lobo! Quando tiveres a barriga cheia é só dizeres "figueirinha nai-naine". A árvore volta crescer, ficando os figos resguardados dos outros animais do campo. Enquanto o Chibinho ia dando as explicações, o comilão do Lobo enchia a sua pança de figos, até mais não poder, não dando atenção às explicações do seu interlocutor, que se pusera a caminho, pois a noite já rondava o desfiladeiro da Manca.
O Lobo abanara a cabeça para sacudir as moscas e o compadre deu por entendida a mensagem. De barriga cheia, dormiu à sombra da figueira até ao raiar de um novo dia, já com as gotas de orvalho pingando das folhagens sobre as suas orelhas cobertas de pó. O Sol reflectia-se nos barrancos de terra branca do vale e os pardais rondavam a fonte. Já com fome, resolvera trepar à árvore...
- Figueirinha nai-naine!... Figueirinha nai-naine!..
E a figueira a subir, em vez de descer...
- Mas é para descer, figueirinha!
A figueira continuou a subir, a subir cada vez mais... Subiu, subiu, atravessou as nuvens, os altos picos, que nem mil canas chegariam até lá, e o Lobo foi dar de caras com S.Pedro, no Céu, no seu trono dourado.
O Lobo ao enxergar as longas barbas brancas do apóstolo, exclamara, surpreendido:
- Nhá mãe! Estou no Céu! Estou perdido!
S. Pedro coçou as longas brabas brancas, deu algumas ordens aos seus súbditos e, olhando as nuvens que passavam; ouvira a explicação dada pelo Lobo...
- Olha lá, meu trapalhão, vou mandar-te de volta à tua terra!
- Mas como, S.Pedro? - perguntou-lhe o recém-chegado, muito envergonhado.
- Não te vou empurrar lá para baixo, não! Vou mandar arranjar uma corda muito comprida, um farnel de cuscuz para a tua caminhada, que vai ser longa, e um tambor de pele de cabrito, para me dares um sinal logo que pises a terra firme do Campo da Preguiça, está bem?
- Sim, sim...
O Lobo parecia ter entendido a explicação de S. Pedro que trazia nas mãos a pesada chave do Paraíso.
Deu-se início à descida... O tempo estava bom. As nuvens, léguas abaixo, eram apenas farrapos no ar, como as penugens das bombardeiras, em dia de vento. S. Pedro, lá em cima, ia folgando a corda à medida que o Lobo ia descendo, pendurado numa bolsa. Desceu dias e noites e, já a ver lá em baixo a ilha de S. Nicolau, foi abordado por um bando de ruídosos e negros corvos voando em círculo. Um deles veio fazer-lhe companhia, trazendo no bico um calamã cheio de manteiga de terra e falou para ele:
- Caro amigo Lobo, eu sei que trazes cuscuz no teu bornal e, com um bocadinho de manteiga fresca que tenho, ia bem uma fatiazinha, não é verdade?
O corvo voara mais de perto, com o calamã no bico, para que o Lobo visse o seu conteúdo.
- Dou-te a manteiga e tu dás-me uma fatia do teu cuscuz. Depois tocas o tambor para eu ouvir o seu som, está bem!
- Não posso tocar o tambor, porque é o sinal para S. Pedro largar a corda...
- S.Pedro está destraído e não vai ouvir-te, pela certa...
O Lobo comeu o cuscuz com manteiga de terra, na companhia do corvo, sob o olhar curioso dos restantes e desatou a tocar tambor.
Lá em cima, S. Pedro, ouvindo o sinal combinado, mandara soltar a corda.
Os corvos afastaram-se, deixando o Lobo na sua vertiginosa queda para o Campo da Preguiça, que se via lá em baixo, amarelado e pedregoso. Ainda faltavam muitas léguas para a terra firme e o Monte da Centinha ainda não se via. O Lobo, ao sentir-se desamparado e gozado pelo corvos, em debandada para o Monte Fora, lembrou-se de uma frase do seu compadre, nos momentos de apuro:
- Pedrinhas lajes (pedras sem arestas) fiquem de fio (de arestas para cima)...
Todas as pedras do Campo da Preguiça ficaram viradas para cima, à espera do Lobo, que se estatelou no chão, no meio de grande poeirada, não muito longe do local onde os pardais debicavam os figos maduros da figueira do seu compadre.
O que o trapalhão do Lobo queria dizer era:
- Pedrinhas de fio (com arestas cortantes) fiquem deitadas...

Moral da história: A gula é sempre castigada....
In http://www.islasdecaboverde.com.ar/san_nicolau/adriano_gominho_narrativas/6_rochinha_a_primeira_escola.htmu primeiro dia da Escola da Rochinha

Tuesday, November 27, 2007

Ilustração de contos populares

O Fábio Silva, o Ivandro Moniz, a Luisa Pandim e o Pedro Dias foram os ilustradores" de serviço" da oitava história sobre "A Esperteza da Lebre".
Depois de termos conversado sobre o que é ser esperto e de termos visto na internet qual a diferença entre um coelho e uma lebre - e também como se desenha uma lebre e uma galinha - foi o Pedro Dias quem, de uma assentada leu esta história popular guineense.Seguiu-se a ilustração da história que correu um bocado pior quando a máquina fotográfica apareceu.
Estes meninos adoram aparecer nas fotografias e também gostam de disputar uns aos outros os lápis de cor...

Monday, November 26, 2007

Cinemateca Jr. mostra "Aniki Bóbó" ao À Bolina


Na quarta-feira, dia 28, estaremos de regresso ao Palácio Foz, onde funciona a Cinemateca Júnior para mais uma visita no âmbito da parceira que criámos. Nesta sessão veremos "Aniki Bóbó" de Manoel de Oliveira e vamos continuar a nossa formação sobre pré-história do cinema aprendendo mais sobre os espectáculos de Lanterna Mágica.

História nº 8: A Esperteza da Lebre

Havia uma lebre que achava que era mais esperta que todos os animais do mundo. Como desconfiava, porém, que a tchoca (galinha do mato) era mais esperta que ela e queria ter a certeza, resolveu convidá-la para irem a uma festa na casa da sua avó.
Para testar a sua esperteza, disse à tchoca haver, pelo caminho, coisas que ela não podia tocar nem comer. A tchoca concordou com isso.
Ilustração: Fábio Silva
Enquanto caminhavam viram uma lagoa. Como estava com sede, a lebre disse à tchoca:
-Olha, tenho de mergulhar na lagoa para ver se encontro o anel da minha mãe que caiu lá para o fundo quando eu e ela passámos aqui.
-Está bem - disse a tchoca.
Quando se atirou para a água, a lebre aproveitou para beber bastante até se fartar. Lá em cima, a tchoca também aproveitou para beber pois sabia que era impossível a lebre mergulhar sem engolir um pouco de água.
Ilustração: Pedro Dias
De repente a lebre saiu da água e disse para a tchoca:
– Então, eu não te disse que nessa lagoa não se pode beber água?
– Sim, disseste - confirmou a tchoca.
– Mas então porque é que tens o bico cheio de água? - retorquiu a lebre.
– E tu? Também tens a boca molhada – disse-lhe a tchoca.
Ilustração: Luisa Pandim
A lebre percebeu que era difícil enganar a sua companheira e lá continuaram a viagem. Assim que chegaram a uma floresta, a lebre pensou que ia conseguir enganar a tchoca. Mas, como havia muitos mosquitos na floresta, e estava a ser mordida ela disse à galinha:
- Bem, assim que chegar a casa vou pedir óleo de palma à minha mãe para espalhar pelo corpo.
Enquanto ia falando, a lebre ia batendo no corpo para explicar onde colocaria o óleo e assim ia matando os mosquitos. Então a tchoca respondeu:
- Vais me oferecer um pouco para eu pôr aqui, aqui e aqui.
Deste modo a tchoca aproveitava também para matar os mosquitos.
Ilustração: Ivandro Moniz
A lebre percebeu que afinal não era a mais inteligente de entre todos os animais e contou à tchoca qual era o seu plano, concluindo assim que não era a mais esperta.

Reunião EuroMed reforça relações na área da imigração

No âmbito da Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia, durante os dias 18 e 19 de Novembro, decorreu em Albufeira, no Algarve, a primeira reunião Ministerial EuroMed sobre Migrações. As conclusões desta reunião, presidida pelo ministro da Administração Interna, Rui Pereira, reflectem a vontade e o empenho de trabalhar em conjunto para a construção de uma parceria para o bem de todos. Foi ainda abordada a temática das migrações no contexto euromediterrânico nas vertentes da migração e do desenvolvimento e imigração legal e ilegal.
Sobre estas três áreas, os ministros dos países da União Europeia e dos estados mediterrânicos -Argélia, Egipto, Autoridade Palestiniana, Israel, Líbano, Jordânia, Marrocos e Tunísia - acordaram tomar medidas e acções concretas. Em relação à imigração legal foram aprovados projectos de criação de um grupo de trabalho sobre matérias de migração no mercado de trabalho, de modo a avaliar as oportunidades laborais para os imigrantes em proveito dos países de destino e de origem e a promoção de cursos de formação profissional e linguística para os imigrantes. Para a sua implementação, a União Europeía disponibilizou cinco milhões de euros.
No campo da migração e desenvolvimento está prevista a criação de um sítio euromediterrânico que disponibilizará toda a informação para facilitar as remessas dos imigrantes, planeou-se ainda estudar a possibilidade de apoiar financeiramente os imigrantes legais na Europa, com vista ao co-financiamento dos seus projectos de investimento nos países de origem.
Relativamente à imigração ilegal, ficou definido que é importante promover a cooperação e o reforço das capacidades através de trocas de experiências, boas práticas e formação regular e também a promoção de projectos que visem a melhoria dos padrões de segurança dos documentos de identidade e de viagem.

Texto: Surraia Correia

Thursday, November 22, 2007

Conhecer o arquipélago dos Bijagós


No próximo dia 24 de Novembro, pelas 17 horas, será inaugurada a exposição de fotografia " A Cooperação Portuguesa no Arquipélago dos Bijagós".
A exposição surgiu no âmbito do projecto " Gestão Comunitária de Água, Saneamento e Educação Sanitária para as Ilhas de Uno e Formosa".

Novo Blogue: Lanterna Mágica

No âmbito da dinamização da Rua do Mundo e da parceria com a Cinemateca Júnior, o À Bolina criou um novo blogue, que servirá como Livro de Bordo das visitas programadas ao Museu do Cinema até ao fim do ano e que perspectivamos continuar em 2008. O blogue é dinamizado pelos Lanternistas, nome outrora dado aos projeccionistas ambulantes de Lanterna Mágica e homenagem a todos os que se entregam e ajudam a preservar a Magia do Cinema. O endereço é http://oslanternistas.blogspot.com mas podem aceder a ele através do link disponível em A Voz da Quinta.

Os dias do cinema

Iniciámos ontem as nossas idas à Cinemateca Júnior, que está a funcionar no Palácio Foz, na Praça dos Restauradores. Antes das 14h30, hora marcada para o encontro, lá chegaram a Ana Francisca, a Ana Sofia, o Alessandro, a Alina, o Ruben, a Vilma acompanhados pela Dirce e pela Surraia. A Carmo e o Eduino tinham chegado um bocadinho antes. A Iolanda, o Fábio e o Francisco (as melhoras para ele, que está doente), só poderão juntar-se a nós a partir da próxima semana.
Fomos recebidos pela Teresa, pela Simona, pela Neva e pela Mariana, que nos deram as boas vindas e explicaram o que vamos fazer ao longo desta pequena iniciação, que durará cinco semanas, na história do pré-cinema. Logo no hall de entrada, conhecemos a reprodução da lua do primeiro filme de ficção científica da história do cinema, “Voyage a la Lune”, realizado por George Méliès. Também espreitámos uma maqueta de filme de Méliès e vimos câmaras de filmar do início da história do cinema além da Simona nos ter mostrado e explicado o que era uma Lanterna Mágica Cinematográfica.
A Teresa sugeriu que, de seguida, subissemos aos bastidores do palco com ecrã da Sala dos Cupidos, onde se projectam os filmes deste museu do cinema para os mais novos. É uma sala muito agradável, com puffs – muito diferente de uma sala de cinema convencional – onde, depois de nos instalarmos confortavelmente, assistimos à primeira sessão pública de cinema. Aconteceu em 28 de Dezembro de 1895, sabiam?
Aprendemos que antes dessa data já faziam filmes mas não se conseguia projectá-los. Foram dois irmãos gémeos franceses – os Lumiére – que, com o seu cinematógrafo, criaram o espectáculo cinematográfico. Em conversa muito participada identificámos algumas das diferenças entre estes filmes – chamados então vistas cinematográficas - e os filmes actuais. Vimos logo uma das principais diferenças: eram a preto e branco. Depois também notámos que eram mudos e que eram realistas - retratavam a vida das pessoas. Constatámos ainda que eram muito mais curtos que os filmes de longa metragem que vemos actualmente no cinema…
Quando descemos para a Sala dos Cupidos – a sala de cinema que, em 1908, era a sala de cinema mais luxuosa de Lisboa e se chamava Salão Central – ainda espreitámos um kinetoscópio de Edison (funciona com moedas) antes de conhecermos a Antónia Fonseca, que escolheu alguns filmes para nós vermos.
Vimos três filmes de Méliès, um dos quais o tal famoso filme de 1902 em que ele antecipou a ida do homem à lua, e percebemos que nem todos os filmes eram a preto e branco. As cores eram pintadas à mão na pelicula e o resultado era belíssimo. Durante a projecção destes filmes, uma pianista, a Catherine, fez o acompanhamento musical. A nossa visita desta semana terminou com o visionamento de “Charlot Boémio”, que nos fez rir muito.
Para a semana, já sabemos, vamos ver o “Aniki Bóbó”, um filme sobre os meninos da Ribeira, no Porto, realizado há muitos anos – quando o cinema ainda era a preto e branco – pelo Manoel de Oliveira. Está prometido que também vamos conhecer melhor um espectáculo de lanterna mágica. Entretanto, da nossa parte, prometemos que durante esta semana vamos escrever sobre o que gostámos mais ou não gostámos nada. Também vamos começar o nosso clube da crítica…

Texto: Maria do Carmo Piçarra
Fotos: José da Costa Ramos

Tuesday, November 20, 2007

Na caminhada para a construção das pontes


No passado dia 25 a 28 de Outubro, realizou-se o segundo encontro dos Jovens Líderes Descendentes de Imigrantes, na Azaruja, Évora.
O grupo informal para a inclusão dos descendentes de imigrantes reuniu-se mais uma vez para falar sobre questões relaccionadas com a integração dos jovens e como ultrapassar os conflitos que vão surgindo.
Desta vez, a questão do lóbi, abordada segundo os especialistas na matéria, Ana Felgueiras e Luís Castanheira Pinto, da Inducar, foi uma das ferramentas para os futuros trabalhos que os jovens possam vir a desenvolver no seio da sociedade e quando opurtuno nas suas associações e comunidades.
Sendo a questão acima referida, um processo deliberado para influenciar as acções dos decisores, com vista a conseguir uma mudança social e torná-la visível, serviu para todos nós, participantes do seminário, clarificar as ideias e mudar de opinião em relação a este assunto. Permitiu-nos ainda, ter um melhor esclarecimento acerca da definição e importância do uso do lóbi.
Ao longo do dia ficamos a perceber melhor através das explicações e dicas, as técnicas e momentos adquados para que se faça lóbi e ter por fim último uma transformação social.

Descendentes de imigrantes que hoje são exemplos.
Antes da hora do almoço tivemos a visita do Secretário de Estado da Juventude e do Desporto, Laurentino Dias, que ainda nos brindou com dois convidados surpresa também descendentes de imigrantes e que hoje são conhecidos nacional e internacionalmente: Nelson Évora, campeão mundial de triplo salto e José Reis medalha de bronze nos mundiais de Kickbox.
Os dois jovens desportistas, que agora servem de exemplos para muitos jovens descendentes e não só, dizem que apesar dos títulos que ganharam levam a vida normalmente e pretendem dar incentivos à aqueles que lutam para uma integração melhor.

Não há futuro sem perdão
O segundo dia do encontro foi de partilha de histórias e de incentivos para que continuemos a desempenhar o papel de facilitadores para uma integração a todos os níveis. John e Engela Volmink, vieram da África de Sul falar das suas experiências num país que praticamente até hoje os seus cidadãos lutam por uma melhor integração. Falaram ainda sobre o que faz um líder baseando-se na vida de Nelson Mandela. Referiram ainda quais as características que um lider deve ter para poder guiar os seus seguidores.
As palavras como a responsabilidade e o perdão foram repetidas pelo casal inúmeras vezes e confesso que me fizeram repensar sobre muitos aspectos da minha vida.
O último dia foi de grande aquisição de conhecimentos através da professora e investigadora do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica, Mónica Dias. Trouxe para a mesa o tema da construção da paz, da sua teoria à prática: A paz só é possível se houver uma construção mental e consciencialização do outro como projecção de mim.
O encontro foi encerrado pelo Alto- Comissário Dr. Rui Marques que nos deixou muitas mensagens: Construir pontes, isto é, sermos pontífices para unir nações e comunidades mas sem esquecer as setes regras que são a base para esta batalha, e nunca pensar sequer em desistir, desanimar e ou perder as esperanças.
Mas acima de tudo este seminário serviu mais uma vez para partilharmos histórias e experiências que vamos ganhando ao longo dos trabalhos que temos desempenhados nas nossas comunidades e associações e sobretudo reflectirmos sobre o que poderiamos fazer para uma melhor adaptação e aceitação dos descendentes e imigrantes que escolheram este país para emigrar e residir.

Texto:Surraia Correia
Fotos: Surraia Correia

Estrelinhas da Quinta


Desde 5 de Novembro que a Quinta da Serra já tem uma creche. Chama-se Estrelinhas da Quinta, acolhe crianças dos três meses aos cinco ano e foi criada a partir de um projecto concebido por Matusende Mendes, uma jovem de 27 anos, natural da Guiné-Bissau e residente no bairro, que se licenciou em Serviço Social na Escola Superior de Educação de Leiria.
A ideia de abrir um espaço para crianças do bairro de modo a facilitar a vida dos que trabalham surgiu à Mati a partir do projecto final de licenciatura. Quando decidiu o que queria fazer, procurou a Floresbela Pinto, presidente da associação dos moradores do bairro, e as Irmãzinhas de Jesus. Todos acharam que era uma ideia fantástica.
Começou por fazer um levantamento das necessidades, através de inquéritos a 50 famílias, que revelaram sentir falta de uma creche a funcionar dentro do bairro. As famílias disseram ainda que as crianças costumam ficar em casa com pessoas mais velhas, irmãos ou simplesmente na rua, sozinhas, sob o olhar dos vizinhos.
Para que a creche abrisse foi preciso criar condições na sede da Associação Sócio-cultural da Quinta da Serra, a qual passou por uma remodelação conseguida devido aos apoios de muitas pessoas e voluntários que nos seus tempos livres colaboraram na iniciativa desta jovem muito determinada.
“Todas as despesas das obras e remodulação do espaço foi suportada pela associação e com a ajuda de amigos”, explica Mati.Sendo a associação a entidade promotora, foi a falta de apoios financeiros o impedimento a que creche abrisse as portas a mais tempo. “ Temos sentido muita falta de apoios, a remodulação do espaço foi feito com ofertas de dinheiros por pessoas amigas e exteriores ao bairro”, reitera.
O horário de funcionamento da creche “Estrelinhas da Quinta” tem um período alargado a pensar nas mães que trabalham até mais tarde. Sendo a entrada entre as 8h e as 9h30, a saída é as 16h, com possibilidade de prolongamento até às 20h. As mensalidades diferem, naturalmente, em função disso tendo o horário normal uma mensalidade de 85€ e o horário alargado, 125€ já com os seguros incluídosDe momento são os pais que garantem as refeições e a associação apenas oferece o lanche. Futuramente a creche pensa fazer uma parceria com o Banco Alimentar Contra a Fome para que haja apoio na confecção dos alimentos. “Uma das barreiras que de momento impede os pais de inscrever as crianças é o facto de terem que trazer o almoço de casa.
Em relação as actividades desenvolvidas incluem-se actividades livres e lúdico-pedagógicas. No futuro pensa-se desenvolver aulas de danças com as crianças.
As duas auxiliares que também abraçaram este projecto da Matusende têm formação na área de acção educativa e fizeram um estágio de duas semanas no Colégio da Nossa Senhora da Purificação na Portela. Devido às dificuldades que a associação enfrenta, os seus ordenados serão pagos com o dinheiro das mensalidades. Esta é, de momento a grande preocupação da Mati: “Estou realmente preocupada com esse assunto porque estavam inscritas dez crianças e neste momento só temos três crianças a frequentar. No final do mês teremos de fazer uma ginástica para pagar os salários”.
Sendo ela própria uma voluntária e não recebendo nada pelo trabalho que tem estado a desenvolver espera que o projecto possa candidatar-se aos apoios da Segurança Social mas primeiro é preciso terminar os trabalhos de remodulação do espaço, assim como as casas de banhos adaptadas para as crianças. “Precisamos de criar condições para poder pedir apoios à Segurança Social e como a associação só por si não tem dinheiro isso torna as coisas ainda mais complicadas”.

Texto:Surraia Correia
Fotos: Matusende Mendes

Monday, November 19, 2007

Jovens do À Bolina na Cinemateca Júnior


A partir de dia 21 de Novembro e durante cinco semanas consecutivas onze jovens do À Bolina participarão nos Ateliers Temáticos de Pré-cinema organizados pela Cinemateca Júnior. É a primeira vez que a nova cinemateca do Museu do Cinema, especificamente dedicada ao público infantil e adolescente e a funcionar na sala de cinema do Palácio Foz, organiza uma actividade continuada com um grupo de jovens. Para esta iniciativa contamos com o apoio da Câmara Municipal de Loures, que disponiliza transporte entre a Quinta da Serra e a Praça dos Restauradores.
Com uma Exposição de Pré-Cinema aberta ao público diariamente entre as 10h e as 17h e sábado, entre as 11h e as 17h, a Cinemateca Júnior também recebe escolas para visitas, sessões de cinema e ateliers temáticos. Sombras, Novos Mundos no Mondo Novo, A Lanterna Mágica, Imagens em Movimento são alguns dos ateliers propostos.

Junto anexamos excerto de um texto de divulgação da Cinemateca Júnior.

(…) o grande especialista de pré-cinema, e célebre historiador, David Robinson confiou-nos algumas das mais preciosas peças da sua lendária colecção e conseguimos obter em depósito, graças à inestimável ajuda de Leslie Hardcastle, um dos fundadores do Momi (Museum of Moving Images) de Londres, algumas das réplicas construídas para aquele Museu, entretanto encerrado. Por outro lado, procurámos ampliar a nossa colecção de filmes com obras adequadas ao novo público que pretendemos encantar. A Cinemateca Portuguesa é por lei e desejo expresso dos que a animam, um MUSEU DO CINEMA. A partir de agora, o MUSEU VAI À ESCOLA e a ESCOLA tem um novo MUSEU onde pode vir.

Texto: Maria do Carmo Piçarra
Fotos: Cinemateca Júnior

Wednesday, November 14, 2007

A história das histórias


Estamos no projecto À Bolina da Quinta da Serra a fazer um inventário de histórias. (...)
As histórias, que já vão na nº7 com a "História da Princesa e do Criado", são-nos contadas por pessoas do bairro, são fixadas pela Surraia e pela Carmo, são lidas e ilustradas pelas crianças e jovens do apoio escolar e são editadas no nosso blog na Voz da Quinta .
O Projecto Aventura, o projecto Escolhas de S. Brás de Alportel, Algarve, convidou-nos para animar uma oficina de conto na II Feira da Interculturalidade a realizar em Dezembro. Decidimos que a nossa delegação será composta pelas crianças e jovens que tenham a melhor história e a saibam contar melhor . A selecção dos membros da delegação será feita pelas próprias crianças e jovens através de votação. Começou já um movimento activo em que os nossos candidatos investigam entre parentes, vizinhos e amigos a história que os levará ao Algarve.
Olho para esta iniciativa e penso como gostaria que todo o nosso projecto pudesse replicar ampliadamente este modelo na sua simplicidade e virtude.

Texto de José da Costa Ramos, in oquestamosafazer@blogspot.com
Fotos: Mª do Carmo Piçarra e José da Costa Ramos

Regulamentação da nova lei de estrangeiros entrou em vigor


Entrou em vigor no passado dia 5 de Novembro a regulamentação da nova lei da imigração pelo que os processos, suspensos desde Agosto à espera da regulamentação, serão retomados.
O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras ( SEF ) retomará a recepção de processos para a regularização de estrangeiros já em conformidade com a nova lei. Para tal é possível fazer um pré- agendamento no portal do SEF, através do sistema informático disponível, para marcar um posterior atendimento para entrega dos documentos.
Esta nova lei é mais flexível e menos burocrática na medida em que deixou de ser exigida a obrigatoriedade da apresentação de documentos em actos administrativos.
Novidade são também o reconhecimento do direito ao reagrupamento familiar nas situações de união de facto e de filhos estudantes, o casamento por conveniência passar a ser considerado um crime e o aumento das coimas para quem aceitar trabalhadores ilegais.
O SEF e o Ministério da Administração Interna apresentam desde o dia 5 uma campanha de informação sob o lema “Nova lei de Estrangeiros: Portugal Melhor “. Esta campanha, que já está a ser divulgada nos órgãos de comunicação social, visa retratar os aspectos mais relevantes da lei através de testemunhos pessoais e verídicos dos imigrantes.

Texto: Surraia Correia

Tuesday, November 13, 2007

História nº 7: A Princesa e o Criado

Havia um rei que tinha uma filha que nunca conheceu nenhum homem. Os reis tinham um criado em casa e não pensaram que a princesa pudesse vê-lo. Até que um dia ela apareceu grávida. Intrigado com o aspecto da filha o rei perguntou à rainha porque é que a princesa tinha a parte da frente “grande” (apurado) e a parte de trás “plano” (rasteiro). Decidiram então ir ao mestre que disse que daí a nove meses, com a ajuda de umas plantas, ela curar-se-ia.
Passados nove meses a princesa teve um filho. Os reis perguntaram à princesa quem era o pai ao que ela respondeu que era o criado.
Ilustração: Vilma Sanhá
Os reis quiseram levar o homem para a forca mas este disse-lhes que o sucedido tinha acontecido no próprio quintal deles. Então os reis também quiseram levar a princesa para a forca. A princesa disse-lhes que eles é que deviam ir para a forca pois tinham dado alojamento ao homem, impedindo-a de vê-lo. Se não queriam que ela tivesse algo com ele não deviam tê-la em casa como uma prisioneira. Disse ainda que o criado, apesar de ser pobre, não podia ser morto pois era o pai do seu filho e seria o herdeiro da riqueza dos reis.
Ilustração: Ana Francisca Lopes

Quando o conheceu, ela não sabia se o homem era rico ou um simples criado. Por isso é que teve contacto com ele, sem pensar no sucessor do trono. A princesa não pôde escolher pois o único homem que conheceu foi o criado. Quanto aos reis não puderam fazer nada em relação a isso e deixaram a princesa viver em paz com o filho e o criado.
Ilustração: Ana Francisca Lopes

Narração em crioulo de cabo Verde pela D. Maria Semedo
Tradução e adaptação por Rosângela Teixeira

História nº 6: Cavalinho


Cada sessão de leitura e ilustração dos contos que recolhemos é uma diversão. Ai fica o registo e a história ilustrada.


Era uma vez uma menina muito bonita, delicada e boa para todas as pessoas. Vivia com o seu pai porque a sua mãe tinha morrido. Sempre que ela ia à fonte buscar água encontrava-se com uma senhora chamada Andreza que a ajudava a tirar água da fonte.
Ilustração: Eunice Lourenço

Tinham uma relação muito boa e a menina gostava mesmo da Andreza. Tanto que sempre que regressava a casa pedia ao seu pai que se casasse com Andreza porque achava que esta também gostava muito dela. Se o seu pai pedisse Andreza em casamento elas nunca se separariam.
Um dia o pai cedeu ao pedido da filha e casou-se com a Andreza. Mesmo vivendo juntas mantinham uma boa relação. Até que um dia em que a menina ficou a guardar as folhas de uma figueira (usadas para curas na medicina tradicional) para que ficassem secas veio um pássaro e levou as folhas. Quando Andreza voltou a rapariga explicou-lhe o sucedido. Furiosa, esta ralhou com ela e foi enterrá-la viva.
Ilustração: Óscar Mendes

Sempre que o cavalo do seu pai ia pastar ia comendo a erva mesmo em cima dela. Como ainda estava viva a menina começava a cantar:

Cavalinho di nha mame, Cavalinho da minha mãe
Cavalinho de nha pape, Cavalinho do meu pai
Ca bu cumé nha cabelo. Não comas o meu cabelo
Andreza n´teram bibo Andreza enterrou-me viva
Pabia di um fidjo di figuera Por causa do ramo de uma figueira
Cavalinho já levou, levou. Cavalinho já levou, levou.
Ilustração: Fábio Vieira

As crianças que por lá passavam ouviam uma voz a cantar e iam correndo dizer ao dono do cavalo mas este não ligava ao que diziam. Um dia, um senhor que por lá passou ouviu a voz e disse ao pai da menina. Só então este acreditou na história e foi desenterrar a filha, levando-a depois para casa para casa. O pai fez uma grande festa por ter a filha de volta mas avisou-a a que nunca o desafiasse. Sempre que um pai diz não a uma filha é para esta obedecer porque ele sabe o que diz e o que quer.
Ilustração: Elsa Mendes

Esta história foi-nos contada pelo Junilto Netchemo. Chegado há menos de um ano da Guiné mantém uma memória viva das histórias contadas por um dos seus irmãos mais velhos.

Responsabilidade e bom senso


José Maria Semedo, o novo membro do À Bolina, é o responsável pelos arranjos necessários no espaço onde funciona o projecto além de estar a dinamizar a relação dos jovens do bairro com as actividades deste Escolhas do Bairro da Quinta da Serra, no Prior Velho. Neste momento está a restaurar o campo de futebol com a ajuda de alguns jovens do
bairro mas ainda consegue ter um pouco de tempo para ajudar no apoio
escolar.
A sua relação com o projecto começou no dia em que veio passear ao salão Polom e ouviu falar da Rita Seixas, a animadora da UNIVA que tem ganho fama e respeito entre os jovens. Este jovem é, para os amigos, o Zé Maria. Tem 24 anos e vive desde sempre no bairro. Passou a ser uma visita quase diária na UNIVA através da qual rapidamente conseguiu um emprego numa carpintaria. O princípio no novo emprego coincidiu com o nascimento do seu filho e o sentimento de que precisava de um trabalho mais estável e com contrato. Quando se aproximou o fim do contrato de curta duração na carpintaria e iniciou nova busca de emprego com a Rita, o coordenador do À Bolina, José da Costa Ramos, fez-lhe uma proposta de trabalho. Zé Maria achou excelente. "Sempre pensei arranjar um trabalho perto de casa mas nunca tive oportunidade". Gosta do trabalho que tem feito na renovação dos espaços do projecto. A sua relação com o À Bolina tem despertado alguma curiosidade por parte dos seus colegas que cada vez mais se aproximam do Salão Polom e das actividades desenvolvidas. Quando o vêem a pintar os espaços do Polom, arranjar as portas e colocar vidros nas janelas muitos dos seus vizinhos e amigos pensam, no entanto, que está a fazer esse trabalho "de borla". Já chegaram a perguntar se está a trabalhar de graça. Isso não o preocupa e responde-lhes dizendo que o seu trabalho é mesmo a sério.

A propósito da ajuda que dá no apoio escolar diz que os meninos e meninas precisam de muita disciplina e sente que por vezes não há respeito visto que já se conhecem da rua. "É sempre diferente quando são pessoas vindas de fora, como era antes, nos primeiros tempos do Polom. Zé Maria diz que ganhou uma responsabilidade maior com o nascimento do seu filho. Hoje considera muito importante para o futuro o trabalho em projectos que têm como objectivo ajudar as crianças e jovens de bairros desfavorecidos na integração na sociedade e que contribuem para melhorar a imagem do bairro no exterior.

Texto: Surraia Correia
Fotos: José da Costa Ramos

Wednesday, November 07, 2007

Primavera na Alegria

Palavras para quê? O filme é curto mas ilustra bem o entusiasmo com que os meninos do Bairro da Quinta da Serra puseram mãos à obra e limparam o campo dos seus jogos de futebol.

Bairro da Quinta da Serra - Dona Alda

Estes fragmentos da história da vida da Dona Alda, a avó das gémeas Manuela e Nélita, revelam uma mulher que soube manter o sorriso apesar da dureza de tudo aquilo por que passou. Mantém uma inocência que contrasta com a violência que se atribui a quem vive neste bairro, muitas vezes conhecido apenas por aquele, das barracas, onde vivem ladrões e imigrantes. É preciso conhecê-los pelo nome, conhecer as biografias de homens e mulheres de trabalho.

Capoeira na Quinta da Serra


Em Junho alguns jovens do bairro da Quinta dos Barros, que integram a Associação Sócio Cultural da Capoeira-Preservação da Mandinga, estiveram no espaço Polom para fazer uma demonstração da capoeira com o propósito de motivar os jovens e adolescentes a praticar este desporto. Fundada em Dezembro de 2003, pelo Mestre Ulisses, residente em Portugal há 11 anos, esta associação tem como objectivo a preservação da história da capoeira, prática e desenvolvimento deste jogo que também é uma arte.
O Manu Gomes, de seis anos, é um entusiasta da capoeira e foi um dos meninos que aceitou experimentar. E tem futuro...

A nossa Pátria é a língua portuguesa



Partindo da acção do À Bolina no Bairro da Quinta da Serra, o coordenador, o José Carlos escreveu no seu blog um texto de reflexão sobre a necessidade de um ensino da língua portuguesa às crianças e jovens dos PALOP nas nossas escolas que incorpore as suas reais dificuldades e ultrapasse o preconceito de que quem é oriundo de países de língua oficial portuguesa não precisa...

Publicamos uma parte do texto que pode ser lido integralmente no blog oquestamosafazer.blogspot.com.

Todos os dias, na nossa acção com o "outro" somos levados a concluir que sem uma língua que nos una, sem essa pátria, só existe o deserto e o deserto em determinadas condições atmosféricas conduz às tempestades e à violência. A violência daqueles que condenamos ou que se condenam a si próprios ao silêncio.

Do ponto de vista escolar, temos, entre nós, situações de crianças que só sabendo falar crioulo não conseguem acompanhar o que se passa, não só nas aulas de português mas em todas as outras disciplinas. Essas crianças para quem pedimos apoio especifico na escola, só podem beneficiar dele depois de terem maus resultados comprovados. Existe uma ideia, errada, de que as crianças e jovens provenientes de países de lingua oficial portuguesa precisam de menos apoio ao nível da língua portuguesa que os outros imigrantes.
Por outro lado, é essa lingua, essa pátria e mátria, que nos liga através da memória e das narrativas ao "outro" que nos cria as condições para o estabelecimento das identidades e também a capacidade da promessa, a visão da(s) nossa(s) possibilidades de futuro. Esta é uma reconciliação que é feita a partir de dentro. Uma reconciliação de paz numa memória marcada pela relação colonizador/ colonizado e muitas vezes pela guerra.

Melhorar por todos os meios ao nosso alcance a competência na lingua portuguesa, como instrumento e espaço de cidadania talvez seja o nosso ovo de Colombo, na resposta à pergunta de como intervir para a inclusão em sistemas cada vez mais complexos. Com a vantagem de resolver na prática a contradição que existe muitas vezes entre acções eficazes e acções fecundas.
Texto: José da Costa Ramos, in oquestamosafazer.blogspot.com